Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) é um tratamento de alta complexidade indicado para diversas doenças hematológicas malignas e não malignas. Apesar de seu potencial curativo, está associado a complicações orais significativas, como a mucosite oral, que pode comprometer a alimentação, favorecer infecções oportunistas e impactar negativamente a qualidade de vida. A atuação odontológica especializada, associada a medidas preventivas e terapêuticas, é fundamental para reduzir esses agravos e otimizar o cuidado ao paciente.

Avaliar o perfil clínico e epidemiológico de pacientes submetidos ao TCTH internados em uma enfermaria especializada, descrevendo a ocorrência e a gravidade da mucosite oral, a frequência de infecções oportunistas e as condutas odontológicas realizadas, com ênfase na aplicação de fotobiomodulação preventiva e terapêutica.

Entre agosto de 2024 e agosto de 2025, foi conduzido um estudo retrospectivo a partir de prontuários de pacientes internados em uma enfermaria de transplante de células-tronco hematopoiéticas. Foram coletados dados demográficos, motivo da internação, número de consultas odontológicas, ocorrência e grau de mucosite oral segundo a classificação da OMS, resultados de exames hematológicos, infecções oportunistas e respectivos agentes etiológicos, além das condutas odontológicas realizadas.

No período, foram registrados 1.825 atendimentos odontológicos para 108 pacientes, sendo 44 do sexo feminino e 64 do masculino, com idade mediana de 49 anos (mínima de 18 e máxima de 70 anos). O número médio de consultas por paciente foi de 16,9, variando de 1 a 57. Quanto ao tipo de TCTH, 38 pacientes foram submetidos ao transplante alogênico, 69 ao autólogo e 1 a outro tipo. As doenças de base mais frequentes foram o mieloma múltiplo em 35 casos, linfoma em 29 casos e leucemia mieloide aguda em 17 casos. A mucosite oral apresentou-se ausente em 1.511 atendimentos, enquanto graus 1, 2, 3 e 4 foram observados em 131, 123, 51 e 9 atendimentos, respectivamente. As condutas odontológicas incluíram a aplicação de fotobiomodulação preventiva para mucosite oral em 1.367 atendimentos e fotobiomodulação terapêutica em 402 atendimentos. No total, a fotobiomodulação foi realizada em 1.438 atendimentos e não realizada em 387. Foram registradas 43 ocorrências de infecções oportunistas (2,4% dos atendimentos), enquanto 1.782 (97,6%) não apresentaram esse tipo de complicação.

Os dados mostram alta demanda de atendimento odontológico e baixa prevalência de mucosite oral grave, possivelmente devido à ampla aplicação da fotobiomodulação preventiva. A ocorrência de mucosite avançada foi rara, e a intervenção terapêutica precoce contribuiu para esse controle. A baixa taxa de infecções oportunistas reforça a importância das medidas preventivas e do acompanhamento odontológico especializado.

A implementação de protocolos preventivos, como a fotobiomodulação, mostrou-se eficaz na redução da gravidade da mucosite oral e de infecções oportunistas. Esses achados reforçam a relevância do acompanhamento odontológico contínuo em pacientes submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas.