A transfusão é um procedimento comprovadamente eficaz, mas que apesar da indicação e administração precisa, podem acarretar reações adversas. A reação transfusional é definida como qualquer intercorrência consequente da administração de hemocomponentes.

Analisar o perfil das reações transfusionais imediatas em uma Agência Transfusional localizada em um Hospital Geral Privado.

Estudo descritivo, observacional e transversal, que avaliou o perfil das reações transfusionais imediatas, quanto ao tipo de reação, o histórico de eventos prévios, tipo de hemocomponente, diagnóstico, sexo e idade dos pacientes. Os dados foram obtidos do sistema software das Agências Transfusionais-GSH, localizadas em um Hospital Geral Privado, em Recife-PE, no período de janeiro 2024 a dezembro de 2024. Foi realizada a análise descritiva dos dados por meio de frequências absolutas, percentuais e utilização da média e mediana.

A Agência Transfusional realizou transfusão de 2.354 hemocomponentes, ocorrendo 24 eventos caracterizados como reações transfusionais imediatas, 87,5% em setores de alta vigilância, 70,8% durante o dia, 91,7% em pacientes com histórico transfusional, mediana de idade de 46 anos, 79,2% do sexo masculino e envolvendo 84 hemocomponentes (3,5% do total transfundido). As Reações Alérgicas representaram 62,5% do total doa eventos, com apenas 12,5% acontecendo em pacientes que não possuíam conduta prévia de medicação voltada para a transfusão e em todos os casos foi definida nova conduta. Já as Reações Febris Não-Hemolíticas representaram 37,5%, sendo 20,4% em pacientes que não possuíam conduta de medicação prévia - para um deles não foi necessária adoção de nenhuma conduta futura. Quanto ao tipo de hemocomponente, constatamos que 79,2% das reações estavam associadas á hemocomponentes Plaquetários, 16,7% à Eritrocitários e apenas 4,1% à Plasmáticos. Em relação aos diagnósticos, 70,8% se tratavam de casos hematológicos: Leucemia Linfocítica Aguda (LLA), Esferocitose, Leucemia Mieloide Aguda (LMA) e Síndrome Mielodisplásica (SMD). Os demais diagnósticos incluíam 20,8% de neoplasias e 8,4% de quadro hemorrágicos.

O perfil deste estudo difere dos resultados apresentados no último Relatório de Hemovigilância publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e de outros estudos realizados com o mesmo tema, onde é observada maior prevalência de reações febris não- hemolíticas e maior número de reações associadas à hemocomponentes eritrocitários. Podemos trazer como principal causa para essa divergência a leucorredução universal, adotada no hospital analisado neste estudo. Apesar disso, todos os estudos corroboram que as reações alérgicas estão predominantemente associadas aos hemocomponentes plaquetários. Evidenciou-se também, conforme a literatura, que a maior parte das reações transfusionais ocorrem em pacientes hematológicos e oncológicos devido ao estado imuno-hematológico desencadeado por patologias, bem como pela necessidade de múltiplas transfusões no decorrer do tratamento. A compreensão do perfil das reações transfusionais é importante para a elaboração de protocolos institucionais com intuito de prevenir e/ou minimizar o risco da transfusão, além da orientação e atualização de profissionais para tomada de condutas frente a esses eventos.