Pacientes com doença falciforme (DF) são considerados de risco elevado para formas graves de COVID‑19 devido à imunossupressão e comorbidades crônicas. Este estudo objetivou analisar os padrões de vacinação contra COVID‑19, utilização de serviços de saúde e desfechos clínicos em uma coorte adulta com DF durante a pandemia.

Investigar aderência à vacinação, frequência de atendimento de emergência e ocorrência de surtos clínicos, além de relacionar tais variáveis aos desfechos clínicos nessa população.

A coorte incluiu 289 pacientes com ≥ 18 anos do estudo REDS‑III Brasil acompanhados de janeiro de 2021 a agosto de 2023. Foram coletados dados sociodemográficos, visitas a emergências, hospitalizações, mortalidade e situação vacinal via programa nacional de imunização. A infecção por SARS‑CoV‑2 foi confirmada por RT‑PCR em pacientes sintomáticos ou hospitalizados.

Do total de participantes, 89,2 % completaram o esquema vacinal primário; 62,2 %, a primeira dose de reforço; 30 %, a segunda; e 4,1 % receberam as cinco doses disponíveis. As visitas de emergência aumentaram ligeiramente durante a pandemia, porém majoritariamente motivadas por crises vaso‑oclusivas. Dos 119 pacientes testados, seis foram positivos para SARS‑CoV‑2, todos com sintomas leves e sem óbitos relacionados à COVID‑19.

A infecção por COVID‑19 não foi identificada como fator desencadeante relevante para crises vaso‑oclusivas ou o aumento de morbi‑mortalidade nessa população. A elevada adesão vacinal provavelmente teve papel protetor, associada ao isolamento social e imunidade coletiva. Contudo, a sobreposição de sintomas entre crises vaso‑oclusivas e COVID‑19 pode dificultar o diagnóstico clínico. A COVID‑19 teve impacto clínico limitado na coorte estudada, sem associação clara com eventos agudos graves ou mortalidade. A alta cobertura vacinal, juntamente com fatores contextuais, parece ter contribuído para esse desfecho positivo.