A pesquisa de anticorpos irregulares (PAI) é de grande importância na prática da medicina transfusional, dado que esses anticorpos podem estar presentes no sistema imune humoral de indivíduos expostos a antígenos não inerentes ao seu organismo, como ocorre em transfusões incompatíveis ou em gestações. É fundamental reconhecer os anticorpos anti- eritrocitários presentes no plasma do receptor, que podem levar à hemólise do sangue em casos mais graves, o que reforça a importância da imuno-hemoterapia. A ocorrência desses anticorpos irregulares em pacientes de uma agência transfusional da cidade de Volta Redonda (RJ) motivou o presente estudo.

Determinar a incidência e a especificidade dos anticorpos irregulares de pacientes de uma agência transfusional do Grupo GSH da cidade de Volta Redonda (RJ).

Trata-se de um estudo observacional, descritivo e retrospectivo. Foram analisados 116 prontuários de pacientes atendidos no período de um ano de 2024, todos com PAI positivo, correlacionando-se com sexo, idade e indicação clínica para transfusão.

Dos 116 pacientes analisados, 109 apresentou alo anticorpo e 07 auto anticorpo. As especificidades mais predominantes foram:12,9% anti-K (15), 11,2% anti-D (13), 5% anti-c (6), anti-C (6), Anti-S(6), Anti-e(6), anti-E (6), anti-M (5), anti-Jka (5),; os menos frequentes 2,5% anti-Dia(3), anti-Lub (3), 1,7% anti-Lua (2), 0,8% anti-Le^a (1), anti-Fy^a (1), anti-C^w (1), anti-Kpb(1), anti-N(1). Em 30%, 35 casos não foi possível concluir a especificidade, sendo classificados como indeterminados. Em relação à faixa etária, os pacientes com maior incidência de anticorpos estavam concentrados: • Acima de 65 anos: 58 pacientes (50,0%) • 41 a 64 anos: 32 pacientes (27,6%) • 19 a 40 anos: 22 pacientes (19,0%) • Até 18 anos: 4 pacientes (3,4%) Quanto ao sexo, a maioria dos pacientes acometidos era do sexo feminino (76%), em comparação com o sexo masculino (24%). A predominância em mulheres pode estar relacionada, entre outros fatores, às gestações, que representam risco importante de sensibilização. Quanto às doenças, as indicações clínicas mais frequentes foram para leucemia (25), anemia (14), mieloma (10), reserva cirúrgica (10), seguidos de sepse (8), anemia hemolítica (5), renal (5), fraturas (5), sem diagnóstico (4), neoplasia (3), pós transplante (3), anemia falciforme (3), síndrome da dor miofascial (3), dengue (3), pneumonia (2), hemorragia digestiva (2), estenose aórtica (2), traumatismo não especificado do tórax (1), hematúria (1), encefalopatia (1), gonatrose primária (1), hemoglobinúria paroxística (1), metástase (1), câncer de reto (1), câncer de colo de útero (1).

Os resultados demonstram maior predominância de anticorpos em mulheres e em pacientes com idade superior a 65 anos. Os anticorpos clinicamente significativos com maior prevalência foram: anti-D e anti-K. Esses achados reforçam a importância da identificação dos anticorpos irregulares nos testes pré-transfusionais e na imunotipagem eritrocitária em receptores com indicação para transfusão. Isso é essencial especialmente em pacientes politransfundidos, gestantes e candidatos a transplante, pois evita reações hemolíticas e melhora a segurança transfusional, contribuindo diretamente para a qualidade da assistência prestada.