HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA deficiência de ferro é a principal causa de anemia no mundo e apresenta desafios diagnósticos, especialmente na deficiência de ferro associada à inflamação crônica, como ocorre em doenças autoimunes, processos infecciosos e insuficiência renal.
ObjetivosRealizar uma revisão de literatura sobre a utilização de novos parâmetros hematológicos para o auxílio diagnóstico de deficiência de ferro, especialmente quando associada a processos inflamatórios e/ou infecciosos, e propor um algoritmo de interpretação baseado na experiência com o analisador hematológico BC-6200 (Mindray).
Material e métodosTrata-se de uma revisão narrativa de literatura nas bases de dados Pubmed e Scopus, no período de 2014 a 2025, utilizando estratégia de busca e operadores booleanos AND e OR, além dos descritores de interesse. A análise dos dados foi realizada através de leitura crítica e compilação de informação com contagens numéricas e proporções.
Discussão e conclusãoOs dados enfatizam que os biomarcadores clássicos do status férrico (ferritina sérica, ferro sérico e índice de saturação de ferro) perdem especificidade em contextos inflamatórios e/ou infecciosos, dificultando a distinção entre deficiência absoluta e funcional de ferro. Nesse cenário, parâmetros reticulocitários como a hemoglobina dos reticulócitos (RET-He), a fração imatura de reticulócitos (IRF) e o índice de produção de reticulócitos (IPR) surgem como alternativas mais sensíveis e específicas tanto para o diagnóstico precoce da deficiência funcional de ferro quanto para o monitoramento da resposta terapêutica. O RET-He reflete diretamente a disponibilidade funcional de ferro na medula óssea e responde precocemente à terapia oral ou parenteral. Já a IRF aumenta rapidamente após estímulo eritropoético, podendo indicar resposta terapêutica precoce. O IPR, por sua vez, permite estimar com mais precisão a eritropoiese efetiva. O compilado de estudos evidencia que, mesmo em estados inflamatórios, como doença renal crônica, infecção aguda e doenças autoimunes, o RET-He se mantém um marcador confiável, ao contrário dos índices clássicos. Desta forma, propõe-se um algoritmo que tenha como ponto de partida a identificação da anemia através do hemograma. Em seguida, avaliam-se ferro sérico, ferritina, TSAT e proteína C reativa (PCR). Em casos de inflamação (PCR elevada), solicita-se o exame de reticulócitos com os novos parâmetros reticulocitários. O RET-He assume papel central, pois quando os valores estão < 28 pg sugerem deficiência funcional e < 25 pg reforçam esse diagnóstico. Uma IRF aumentada (> 0,20) sugere eritropoiese ativa com aporte insuficiente de ferro. A combinação RET-He baixo + IRF elevado justifica o início da reposição de ferro, mesmo diante de ferritina dentro dos valores de referência. A resposta deve ser monitorada após 7–10 dias, sendo considerados satisfatórios um aumento ≥ 2 pg no RET-He e elevação da IRF ou do IPR. A persistência de RET-He < 28 pg após 14 dias de reposição de ferro sugere falha terapêutica, má absorção ou processo inflamatório ativo. Desse modo, os índices reticulocitários são úteis para triagem e acompanhamento de pacientes sob risco de deficiência funcional de ferro. O algoritmo proposto otimiza a conduta clínica, permite intervenções precoces e reduz exames inconclusivos em contextos inflamatórios ou infecciosos. A integração desses parâmetros à rotina laboratorial representa um avanço diagnóstico e operacional, com potencial de padronizar condutas em diferentes cenários clínicos.




