HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia ferropênica é uma das desordens nutricionais mais comuns no mundo, influenciada por fatores ambientais, dietéticos e genéticos. Entre os fatores genéticos, destacam-se os polimorfismos do gene HFE, especialmente C282Y (rs1800562) e H63D (rs1799945), que afetam a funcionalidade da proteína HFE, reguladora da homeostase do ferro. A proteína HFE interage com o receptor de transferrina tipo 1 (TfR1) nos enterócitos, modulando a captação de ferro. As mutações provocam alterações estruturais que reduzem a sinalização inibitória da absorção de ferro, elevando os níveis de ferro circulante e estoques corporais. Isso se reflete em biomarcadores como ferritina elevada e TIBC/UIBC reduzidos. Em heterozigose, tais mutações podem ter efeito protetor contra a anemia ferropriva, em homozigose ou combinações, podem predispor à sobrecarga.
ObjetivosAvaliar a influência dos polimorfismos C282Y e H63D do gene HFE na anemia ferropriva e seus impactos na homeostase do ferro.
Material e métodosA pesquisa foi conduzida na base PubMed (2010–2025), utilizando as combinações: “HFE gene polymorphism AND iron deficiency anemia AND genetic mutation” (5 artigos) e “HFE gene AND C282Y OR H63D AND iron deficiency” (44 artigos). Aplicaram-se filtros para estudos em humanos, com textos completos, em inglês, português ou espanhol. Foram incluídos artigos que relacionavam os polimorfismos do gene HFE à anemia ferropriva, com avaliação de parâmetros hematológicos e do metabolismo do ferro. Excluíram-se estudos experimentais, focados apenas em hemocromatose hereditária ou sem acesso ao texto completo.
Discussão e conclusãoOs polimorfismos C282Y e H63D influenciam os biomarcadores do metabolismo do ferro. Em estudos com doadores brasileiros, homens portadores de C282Y mostraram queda acentuada no TIBC (∼83,7%) e elevação na saturação de transferrina. Já os com H63D apresentaram ferritina sérica elevada mesmo em heterozigose. Mulheres em idade fértil heterozigotas para ambas as mutações apresentaram maiores níveis de ferro e hemoglobina, indicando possível proteção contra a anemia. Observou-se um gradiente na alteração dos biomarcadores de indivíduos sem mutações para heterozigotos simples e compostos,com exceções observadas em homens ou em função de fatores ambientais. As mutações no HFE alteram sua interação com a β2-microglobulina e o receptor de transferrina, levando à menor expressão de hepcidina e maior absorção de ferro. A mutação C282Y, mesmo em heterozigose, impacta fortemente a saturação da transferrina, especialmente em homens. H63D, isolada, eleva levemente o ferro e a ferritina, mas com menor risco clínico. A combinação C282Y/H63D leva a níveis intermediários, com baixa incidência de sintomas clínicos. Tais polimorfismos podem conferir vantagem adaptativa em populações vulneráveis à deficiência de ferro, como mulheres em idade fértil, favorecendo a retenção de ferro. Os polimorfismos C282Y e H63D do gene HFE afetam significativamente a homeostase do ferro, mesmo em heterozigose. H63D parece exercer efeito protetor contra anemia ferropriva, enquanto C282Y, isolado ou combinado, eleva os níveis de ferro sem necessariamente causar hemocromatose. Esses dados destacam a importância da genotipagem no diagnóstico diferencial da anemia, viabilizando estratégias terapêuticas direcionadas. Recomenda-se a realização de estudos futuros sobre a interação entre genética e fatores ambientais, bem como pesquisas longitudinais para avaliar o impacto clínico dessas mutações ao longo da vida.




