HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia linfoblástica aguda (LLA) Philadelphia-negativa (Ph-) difere da LLA Ph+ por não apresentar a fusão gênica BCR-ABL1, que define um alvo terapêutico específico. Tradicionalmente, o tratamento da LLA Ph- é baseado em quimioterapia intensiva e transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas (alo-TCTH). Embora essas estratégias possam ser eficazes, estão associadas a alta toxicidade.
ObjetivosAboradar a incorporação de terapias imunológicas que vem transformando o cenário terapêutico e promovendo aumento das taxas de remissão e sobrevida, com menor agressividade terapêutica.
Material e métodosFoi realizada uma revisão narrativa com foco em imunoterapias aplicadas à LLA Ph-. A busca ocorreu na base PubMed, utilizando os descritores: Philadelphia Chromosome Negative Acute Lymphoblastic Leukemia AND Therapies. Foram incluídos apenas artigos de revisão publicados a partir de 2020, com exclusão de ensaios pré-clínicos e trabalhos direcionados à padronização metodológica. Entre os 46 artigos inicialmente identificados, foram selecionados 14 que abordaram terapias imunológicas específicas para LLA Ph-, como anticorpos biespecíficos, conjugados anticorpo-droga e células CAR-T. Os estudos escolhidos apresentaram dados clínicos objetivos, como taxas de remissão e sobrevida.
Discussão e conclusãoAs imunoterapias analisadas demonstraram avanços expressivos no manejo da LLA Ph-. O blinatumomabe, anticorpo biespecífico que une linfócitos T a células B leucêmicas, elevou significativamente as taxas de remissão e sobrevida quando administrado após a quimioterapia ou em casos de recidiva, superando a quimioterapia isolada. O inotuzumabe ozogamicina, um anticorpo conjugado a agente citotóxico, obteve taxa de remissão de 80,7% em pacientes refratários, comparada a 29,4% dos tratados apenas com quimioterapia (p < 0,001). A terapia com células CAR-T, que reprograma linfócitos T do próprio paciente para reconhecer o antígeno CD19, alcançou remissão completa em 81% dos casos, com sobrevida livre de eventos em 12 meses estimada em 50%. O uso do blinatumomabe e do inotuzumabe reduziu significativamente a necessidade de quimioterapia intensiva, contribuindo para um perfil terapêutico mais tolerável. Contudo, essas estratégias não estão isentas de efeitos adversos. O blinatumomabe pode causar febre e sintomas neurológicos transitórios, enquanto o inotuzumabe apresenta risco de toxicidade hepática. A terapia CAR-T realmente apresenta eficácia superior, porém é tecnicamente complexa, onerosa, restrita a centros especializados e associada a efeitos imunológicos e neurológicos graves. Além disso, a perda da expressão do antígeno CD19 por parte das células leucêmicas limita a eficácia em alguns casos. Apesar desses desafios, as imunoterapias ampliaram consideravelmente as perspectivas de remissão e sobrevida, redefinindo o padrão de tratamento da LLA Ph-. A imunoterapia tem remodelado o manejo da LLA Ph-, oferecendo opções mais específicas, eficazes e potencialmente menos tóxicas. No entanto, limitações persistem, incluindo outros tipos de efeitos adversos, custos elevados e necessidade de infraestrutura especializada, além da ocorrência de outros mecanismos de escape tumoral, apesar de reconhecidos avanços terapêuticos. Diante disso, estratégias terapêuticas personalizadas, que combinem eficácia e segurança, tornam-se cada vez mais necessárias e factíveis.




