HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA triagem de hemoglobinas anormais em doadores de sangue é essencial para a segurança transfusional. Métodos mais sensíveis podem melhorar a acurácia diagnóstica.
ObjetivosDescrever os resultados obtidos com a adoção da eletroforese de hemoglobina em substituição ao teste de solubilidade na triagem de HbS em doadores de sangue, por meio da análise de dados retrospectivos de diferentes períodos, destacando suas implicações práticas e impacto potencial na segurança transfusional.
Material e métodosTrata-se de um estudo observacional retrospectivo, conduzido em um banco de sangue do estado do Paraná. Foram analisados dados laboratoriais provenientes de dois períodos distintos: de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2023, período em que foi utilizado o teste de solubilidade como método de triagem para hemoglobina S (n=11.399 doadores); e de 09 de fevereiro de 2024 a 08 de fevereiro de 2025, período em que foi empregada a eletroforese de hemoglobina como método de triagem (n=12.570 doadores). Foram extraídos os dados referentes à prevalência de HbS e de outras variantes hemoglobínicas, sendo os resultados expressos em valores absolutos e percentuais.
ResultadosNo período avaliado com o teste de solubilidade, foram identificados 147 doadores HbS+, correspondendo a 1,29% do total. Já com o uso da eletroforese, identificaram-se 197 doadores HbS+, representando 1,57%. No total, a eletroforese identificou 272 doações com alterações hemoglobínicas, sendo: HbS (1,57%), HbAC (0,56%), HbAD (0,02%), HbFetal + HbA1 (0,01%) e HbAJ (0,01%). O aumento percentual na detecção de HbS pode indicar uma maior sensibilidade diagnóstica da eletroforese, embora essa inferência deva ser feita com cautela, considerando que os dados derivam de populações distintas. Ainda assim, os achados estão de acordo com a literatura, que reconhece uma maior sensibilidade da eletroforese e superioridade na triagem de variantes hemoglobínicas.
Discussão e conclusãoA eletroforese de hemoglobina é amplamente reconhecida como padrão-ouro para triagem de hemoglobinopatias, dada sua capacidade de identificar diferentes frações hemoglobínicas além da HbS, como HbC, HbD, HbE e HbF. Embora a Portaria GM/MS n° 158/2016 exija apenas a triagem para HbS, a identificação de outras variantes hemoglobínicas pode agregar valor significativo à medicina transfusional, favorecendo o direcionamento adequado de hemocomponentes e a segurança em pacientes com hemoglobinopatias. No presente estudo, a prevalência de HbS encontrada com a eletroforese foi semelhante à reportada em outras regiões brasileiras, como evidenciado em análises retrospectivas de grande porte (Kroger et al., 2022), reforçando a importância de se considerar o perfil regional na elaboração de estratégias de triagem. A substituição metodológica também pode contribuir para decisões clínicas mais seguras e ampliar a capacidade técnica da triagem laboratorial. Embora ambas as técnicas sejam aplicáveis à rotina transfusional, a adoção da eletroforese de hemoglobina amplia a capacidade diagnóstica, permite uma caracterização mais precisa das variantes hemoglobínicas e está alinhada às boas práticas de hemoterapia. Sua utilização contribui para decisões clínicas mais seguras e para o manejo adequado dos hemocomponentes, elevando o padrão técnico da triagem laboratorial e da assistência transfusional.
Referências:
Kroger FL et al. Hemoglobin S identification in blood donors: A cross section of prevalence. Hematology, Transfusion and Cell Therapy. 2022;44(3):336–340. https://doi.org/10.1016/j.htct.2020.11.009.




