HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemoterapia, historicamente conduzida com foco prioritário na conformidade regulatória e na segurança transfusional, enfrenta um novo cenário de complexidade: demanda variável, custos crescentes, pressão por indicadores de desempenho e avanço acelerado das tecnologias digitais. Bancos de sangue, tradicionalmente organizados em estruturas lineares e processuais, raramente operam com visão de negócio orientada por dados, experiência do paciente e sustentabilidade financeira. Propomos o conceito de Hemoterapia 4.0, inspirado na Indústria 4.0 e no Lean Healthcare, integrando gestão estratégica, automação inteligente, análise preditiva e cultura organizacional centrada em valor. A ideia é migrar de um modelo de operação reativa para uma gestão preditiva, escalável e conectada.
ObjetivosApresentar e avaliar um modelo disruptivo de gestão para bancos de sangue, unindo tecnologias emergentes, ciência de dados e metodologias de melhoria contínua para otimizar segurança, eficiência e sustentabilidade do negócio.
Material e métodosFoi desenvolvido um protótipo conceitual de gestão integrada baseado em quatro pilares: 1. Digitalização de processos críticos: uso de RPA (Robotic Process Automation) para triagem, registro e rastreabilidade. 2. Análise preditiva de demanda: aplicação de modelos de machine learning para previsão de necessidades transfusionais por perfil epidemiológico e sazonalidade. 3. Gestão Lean-Ágil: implementação de células de melhoria contínua e fluxos de valor interconectados. 4. Experiência do doador e do paciente: criação de jornadas digitais e comunicação personalizada. A metodologia foi testada em simulação computacional com dados reais anonimizados de um banco de sangue de médio porte.
ResultadosO modelo preditivo reduziu discrepâncias entre demanda real e estoque disponível em até 23%. A automação dos registros e integração de dados eliminou retrabalho administrativo em 18% das operações. A abordagem Lean-Ágil diminuiu o tempo médio de liberação de hemocomponentes em 12%, enquanto a jornada digital do doador aumentou em 15% a taxa de retorno em campanhas específicas. Além dos ganhos técnicos, o modelo melhorou a visibilidade gerencial e a capacidade de tomada de decisão baseada em evidências.
Discussão e conclusãoA adoção da Hemoterapia 4.0 representa uma mudança de paradigma: não se trata apenas de otimizar processos existentes, mas de reposicionar o banco de sangue como uma organização inteligente, adaptativa e orientada a valor. A combinação de tecnologias emergentes, gestão ágil e foco no cliente/doador cria um sistema mais resiliente, seguro e sustentável. Esse modelo pode ser adaptado a diferentes portes de serviço, potencializando não só a performance clínica, mas também a sustentabilidade do negócio hemoterápico no Brasil.
Referências:
ABNT. NBR ISO 7101:2025 – Sistemas de gestão da qualidade em organizações de saúde. Rio de Janeiro: ABNT; 2025.
AABB. Standards for Blood Banks and Transfusion Services. 33rd ed. Bethesda, MD: AABB, 2022.
ANVISA. RDC n° 34, de 11 de junho de 2014. DOU, 16 jun. 2014.
Womack JP, Jones DT. Lean Thinking. New York: Simon & Schuster; 2003.
Liker JK. The Toyota Way. New York: McGraw-Hill; 2004.
Porter ME, Heppelmann JE. Harvard Business Review, 2014. Silva J et al. Lean healthcare: aplicação em hemoterapia. Rev Gestão Saúde, 2021;12(3):45-54.




