HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA aloimunização eritrocitária é caracterizada pela formação de anticorpos específicos contra antígenos eritrocitários ausentes no fenótipo do indivíduo, geralmente em decorrência de exposições prévias. Essa resposta imune humoral resulta no reconhecimento e destruição de hemácias que expressam os antígenos incompatíveis. A frequência e a especificidade dos anticorpos variam de acordo com fatores imunogenéticos da população, natureza e frequência da exposição antigênica. Nesse contexto, a triagem de anticorpos irregulares (PAI) constitui uma ferramenta essencial na prática hemoterápica, onde a identificação dessas imunoglobulinas assegura a seleção de hemocomponentes compatíveis, promovendo maior eficácia e segurança.
ObjetivosCaracterizar o perfil de aloimunização eritrocitária em pacientes com PAI positivo, avaliando a frequência e especificidade dos aloanticorpos identificados.
Material e métodosForam analisadas 119 amostras de pacientes com PAI positivo de dois hemocentros, em Curitiba e Maringá, entre janeiro e julho de 2025. Os dados laboratoriais incluíram sexo, idade, tipagem ABO/Rh, PAI, TAD e especificidades dos aloanticorpos. A análise estatística foi descritiva, com cálculo de frequências absolutas e relativas.
ResultadosA população estudada apresentou predomínio do sexo feminino (67%) enquanto o sexo masculino representou 33%. A distribuição dos grupos sanguíneos revelou predominância do grupo O em 44% dos pacientes, seguido pelo grupo A (40%) B (14,3%) e AB (1,7%). A frequência de Rh positivos foi de 70 %, enquanto 30% foram Rh negativos. O TAD apresentou reatividade em 38% dos casos. Em relação à identificação, a maior prevalência está associada a anti-D e anti-E, correspondendo a 18,5% cada. O anti-K representou 11,6% das especificidades, seguido de anti-C e anti-Dia, ambos com 8,2%. Outras frequências observadas incluíram anti-Lea, anti-Fya e anti-M (4,1% cada), anti-c (3,4%) e anti-e (4,8%). Anticorpos menos frequentes, como anti-Leb, anti-Fyb, anti-Kpa, anti-Jka, anti-Jkb, anti-S e anti-s, apareceram em menos de 1% a 2% dos casos. Cerca de 16% dos pacientes apresentaram aloimunização múltipla, com combinações principalmente entre anticorpos dos sistemas Rh e Kell.
Discussão e conclusãoOs resultados confirmam o predomínio dos aloanticorpos dos sistemas Rh e Kell, amplamente reconhecidos na literatura como os mais imunogênicos e frequentes em pacientes transfundidos. A alta incidência de anti-D, mesmo em indivíduos Rh positivos, sugere variações antigênicas que favorecem a aloimunização. Além do predomínio dos sistemas Rh e Kell, a presença frequente de aloanticorpos anti-E e anti-C também está alinhada com dados epidemiológicos que destacam a alta imunogenicidade desses antígenos. A positividade do TAD em parte da amostra pode refletir a presença de imunoglobulinas ou complemento fixados às hemácias. A maior incidência no sexo feminino reflete o impacto da exposição imunogênica gestacional, reforçando a importância da profilaxia e acompanhamento em gestantes para minimizar impactos. O estudo evidenciou o perfil de aloimunização eritrocitária na população avaliada, com predominância dos anticorpos dirigidos aos sistemas Rh e Kell, corroborando dados epidemiológicos previamente descritos. Os resultados reforçam a importância da PAI como ferramenta indispensável para a prática hemoterápica segura e eficaz, indicando a relevância do acompanhamento laboratorial detalhado.




