HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA genotipagem eritrocitária constitui uma ferramenta essencial na prática transfusional, especialmente para a prevenção de reações adversas em pacientes recentemente transfundidos e aqueles com histórico imuno-hematológico complexo, como aloimunizações múltiplas. A determinação precisa dos genótipos eritrocitários permite a identificação de variantes genéticas e alelos raros não detectáveis pela tipagem fenotípica convencional, contribuindo para a compatibilização sanguínea personalizada e a redução de eventos hemolíticos.
ObjetivosEste estudo, realizado no Banco de Sangue do Hospital Sírio-Libanês, teve como objetivo validar o kit IDCOREXT/BLOODchipID (Progenika Biopharma, Grifols) para genotipagem eritrocitária, utilizando o sistema Luminex®200 e o software BIDSXT, comparando seu desempenho ao método PCR convencional atualmente empregado. Também foi avaliada a rastreabilidade e a viabilidade operacional da nova metodologia, como etapa preparatória à sua incorporação na rotina do serviço.
Material e métodosForam analisadas 68 amostras de DNA previamente genotipadas, sendo 51 (75%) provenientes do Banco de Sangue e 17 (25%) do programa SCARF (Serum Cells and Rare Fluids Exchange Program), com predomínio de genótipos raros nos sistemas RH (CE), KEL, KIDD, DUFFY, MNS, DIEGO, entre outros. As amostras foram processadas com o kit IDCOREXT, seguindo protocolo adaptado à rotina do setor de Biologia Molecular. A análise foi realizada por meio do software BIDSXT, e os resultados comparados aos obtidos pelo método PCR convencional (PCR- SSP e PCR-RFLP, métodos “in house”).
ResultadosFoi observada concordância de 100% entre as metodologias para os sistemas RHCE, KEL, KIDD, MNS (S/s), DIEGO e CARTWRIGHT. O kit identificou mutações relevantes não detectáveis pela PCR convencional utilizada na nossa rotina, como a mutação 733G em heterozigose no gene RHCE, além da detecção do alelo Fyx [mutação adicional FYB (265T)], no sistema DUFFY, que leva ao fenótipo raro Fybw. Em amostras com histórico FYBnull, o kit detectou, além da mutação GATA conhecida, o fenótipo Fyx, permitindo reclassificações mais precisas. Embora o BLOODchipID não realize genotipagem para o gene RHD, ampliou a abrangência genotípica para 43 alelos, em comparação aos 17 alelos atualmente detectáveis na rotina. A automação via software BIDSXT conferiu rastreabilidade total e reduziu o tempo de intervenção do operador em até 63%. A análise de custo indicou aumento discreto (2,6%) para a realização do teste isolado para o sistema RH utilizando-se a metodologia “in house” para o gene RHD e o BLOODchipID para demais alelos; contudo, observou-se redução superior a 50% de custo quando realizada a genotipagem completa (para todos os sistemas acima mencionados).
Discussão e conclusãoO kit IDCOREXT mostrou-se eficaz, seguro e vantajoso tanto do ponto de vista técnico quanto econômico, fornecendo resultados mais amplos com menor intervenção manual. A detecção de variantes genéticas clinicamente relevantes representa um avanço importante na segurança transfusional, especialmente para pacientes com fenótipos raros ou múltiplas aloimunizações. A adoção dessa metodologia deverá aumentar a precisão dos testes de genotipagem e promover ganhos significativos em produtividade e qualidade no laboratório de Biologia Molecular.




