HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA transfusão de sangue é uma prática médica que consiste na transferência de sangue ou de um componente sanguíneo de uma pessoa (doador) para outra (receptor). De forma cotidiana, a transfusão é utilizada em intervenções cirúrgicas, traumatismos, hemorragias digestivas ou em outros casos em que tenha havido grande perda de volume sanguíneo. Apesar dos avanços substanciais em segurança transfusional, essa terapia ainda apresenta riscos associados a reações adversas e efeitos imunomodulatórios indesejáveis. Os antígenos eritrocitários são estruturas proteicas, glicolipídicas ou glicoproteicas localizadas na superfície externa das hemácias. Essas estruturas desempenham diversas funções fisiológicas importantes, como o transporte de substâncias e a função de quimiorreceptores. Em situações em que apenas doações alogênicas são viáveis para transfundir um paciente com um tipo sanguíneo raro, a busca em um banco de fenótipos ou na base familiar se torna a estratégia principal recomendada para encontrar o fenótipo específico desejado. Um fenótipo de grupo sanguíneo pode ser considerado raro pela ausência de um antígeno de alta frequência, também conhecido como “alta de prevalência” ou “antígeno público”, que apresenta incidência >90% na população, sendo que a maioria tem prevalência maior que 99% (exemplos: MNS:-5; DI:-2; JK:-3) e/ou pela ausência de expressão de múltiplos antígenos de um mesmo sistema (exemplo: haplótipos dCE/dCE) ou de sistemas distintos de grupos sanguíneos (exemplos: R1R1; KEL:-1,2; FY:-1,2; JK:-1,2 e MNS:-3,4).
ObjetivosDescrever a frequência relativa dos fenótipos eritrocitários dos nossos doadores de sangue e estimar a prevalência dos antígenos raros encontrados no Hemocentro Regional de Niterói.
Material e métodosTrata-se de um estudo transversal, que utilizou dados das fenotipagens eritrocitárias de doadores de sangue do HEMONIT/EBSERH no período de maio de 2021 a maio de 2025. Os exames de fenotipagem do doador foram realizados a partir das amostras em EDTA previamente coletadas e destinadas ao laboratório de imuno-hematologia. As fenotipagens para os Sistemas Rh, Kell, Kidd, Lewis, P, Lutheran, Duffy e MNS foram realizadas pelo método em Gel centrifugação (Bio-Rad Laboratories) conforme instruções do fabricante. Amostras com teste de antiglobulina direta positiva foram excluídas do estudo.
ResultadosForam identificadas 596 doações com fenótipos para os diversos sistemas de grupos sanguíneos. Houve predominância de doadores do sexo feminino (54,1%), raça branca (71,6%) e grupo O (55,4%), A (33,7%), B (7,6%) e AB (3,3%). Em relação à presença do antígeno RhD observa- se uma prevalência de 75,1%, o fenótipo R1r (n = 204; 34,2%), R1R1 (n = 47; 7,9%), R1R2 (n = 50; 8,4%), RoRo (n = 79; 13,3%), R2R2 (n = 7; 1,2%) e R2r (n = 60; 10,1%). O fenótipo R1R1; KEL:-1,2; FY:-1,2; JK:-1,2 foi encontrado em apenas um doador (0,2%), de forma semelhante, foi encontrado um único fenótipo (rr; KEL: -1,2; FY:-1,2; JK:1,2; LU:1,-2).
Discussão e conclusãoA identificação eventual de doadores raros pode ocorrer por busca ativa, por meio dos testes de fenotipagem eritrocitária que são executados rotineiramente nos serviços de hemoterapia. Nossos achados demonstram a necessidade de aumentar o banco de fenótipos, permitindo a fidelização desses doadores raros. Em casos nos quais somente é possível considerar doações do tipo alogênicas para a transfusão de um paciente portador de sangue raro, a busca familiar passa a ser a principal estratégia recomendada para encontrar o fenótipo raro de interesse.




