HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia maligna caracterizada pela proliferação clonal de células da linhagem mieloide. Na maioria dos casos, a presença do gene de fusão BCR ABL e do cromossomo Filadélfia estão associados à maior atividade da proteína tirosina-quinase que promove a divisão celular descontrolada. A LMC pode evoluir de forma lenta em três fases: crônica, acelerada e crise blástica. Esta última é marcada pelo aumento da proliferação de blastos (> 20% no sangue periférico ou na medula óssea) mimetizando alguns tipos de leucemias agudas.Tal transformação pode ocorrer com as linhagens mieloide ou linfoide, sendo a crise blástica de células B um subtipo raro e de pior prognóstico. O manejo clínico nessa fase exige protocolos de quimioterapia intensiva que estão associados à ocorrência de complicações sistêmicas. O eritema multiforme é uma reação aguda imunomediada que pode ser desencadeada pela exposição à altas doses de quimioterápicos. Manifesta-se como lesões eritematosas e/ou ulcerativas nas mucosas e pele. As lesões ulceradas da mucosa bucal geralmente são acompanhadas por dor intensa que pode impedir o paciente de se comunicar e deglutir alimentos comprometendo sua qualidade de vida.
Descrição do casoO presente relatório descreve um caso de eritema multiforme associado ao uso de altas doses de metotrexato em paciente com LMC e fase de crise blástica de células B. Homem negro, com 32 anos, tabagista e etilista, foi avaliado pela nossa equipe do Projeto de Extensão Universitária em Onco-hematologia (Processo: 2025/9673; PROEC-UNESP) logo após o início do tratamento com o metotrexato e a aparição de lesões bucais. O paciente havia iniciado recentemente a terapia com mesilato de imatinibe (400 mg/dia) após o diagnóstico de LMC. Entretanto, devido à evolução da doença com a crise blástica linfoide, foi submetido ao protocolo quimioterápico com altas doses de metotrexato. No exame físico intrabucal, foram identificadas extensas lesões ulcerativas com áreas hemorrágicas em mucosas labiais e jugais, ventre de língua e palato mole associadas à dor intensa (score 10; EVA), odinofagia (score 10; EVA) e disfagia. O paciente também apresentou lesões cutâneas nos membros superiores e inferiores e tronco de aspecto concêntrico, com centro violáceo ou necrótico, circundado por anéis edematosos e descamativos. Os aspectos clínicos das lesões mucocutâneas, que acometeram mais de 10% da superfície corporal do paciente, levaram ao diagnóstico de um eritema multiforme maior. A equipe médica foi então informada a respeito do diagnóstico clínico e suspendeu o tratamento do paciente. Para o controle das lesões associadas a doença mucocutânea, o paciente recebeu 4 ampolas de 2,5 mL de dexametasona (4 mg/mL; IV). As lesões bucais também foram tratadas com bochechos da solução contendo dexametasona (0,1 mg/mL), clorexidina 0,12%, nistatina 100.000 UI e vitamina B12. O paciente foi submetido a um protocolo de fotobiomodulação por 30 dias utilizando-se os comprimentos de onda vermelho (660 nm ± 10 nm) e infravermelho (808 nm ± 10 nm) e densidade média de potência correspondente a 2.5 W/cm2 por ponto irradiado de cada lesão bucal.
ConclusãoO paciente obteve uma melhora significativa do quadro clínico com cicatrização total das lesões em mucosa bucal e pele. Atualmente, segue em acompanhamento com equipes multiprofissionais e interdisciplinares associadas ao projeto de extensão.




