A ausência de diretrizes padronizadas para pessoas com hemofilia dificulta a prescrição segura de exercícios físicos, especialmente por profissionais pouco familiarizados com a doença, e a escassez de orientações direcionadas limita a adesão entre os adultos, que são frequentemente sedentários. Tecnologias educacionais podem ampliar o acesso à prática segura do exercício físico e qualificar a assistência.

Desenvolver e validar o conteúdo de storyboards de exercícios para adultos com hemofilia.

Estudo metodológico orientado pelo modelo ADDIE de design instrucional e pela checklist COSMIN. Realizou-se uma revisão de escopo conforme a metodologia do JBI e as diretrizes PRISMA-ScR, respondendo à pergunta de pesquisa: “Quais modalidades, duração, frequência e intensidade estão sendo utilizadas em programas de exercícios para pessoas com hemofilia em qualquer contexto?”. Em seguida, selecionaram-se os exercícios, elaborou-se o roteiro e desenvolveram-se os storyboards. Por fim, estes foram submetidos à validação de conteúdo por especialistas, selecionados por conveniência, utilizando-se o instrumento de validação de conteúdo educativo em saúde, com ponto de corte de 29 pontos e Índice de Validade de Conteúdo (IVC) mínimo de 80%. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (CAAE 80295324.4.0000.5404) e realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

A revisão identificou 5.579 referências, com uma amostra final de 36 estudos. Exercícios resistidos, de flexibilidade e aeróbicos foram os mais comuns, enquanto endurance e sensório-motor raramente foram utilizados. Elaboraram-se 79 storyboards, divididos em seis grupos. Estes foram avaliados por seis especialistas, com média de 17,8 anos (DP ± 10,6) de experiência no cuidado de pessoas com hemofilia. Todos os grupos obtiveram IVC mínimo de 80% na primeira rodada de avaliação: fortalecimento de membros inferiores e alongamento (IVC = 100%); Orientações para a prática do exercício físico, sensório-motor e fortalecimento de membros superiores (IVC = 83,3%); e fortalecimento de tronco (IVC = 80%).

O estudo disponibilizou evidências sistematizadas sobre o exercício físico em pessoas com hemofilia com base em uma revisão de escopo, que foi a primeira a mapear os parâmetros de diferentes modalidades de exercício entre as diferentes gravidades da doença. Programas individualizados estiveram associados a melhora da força muscular, da qualidade de vida e da autoeficácia da dor crônica, sem o aumento do risco hemorrágico. A predominância de exercícios resistidos, de flexibilidade e aeróbicos era esperada, uma vez que tais modalidades são o principal foco das diretrizes de exercício para indivíduos saudáveis; portanto, é lógico que os estudos busquem adaptar essas recomendações às pessoas com hemofilia. São necessários protocolos que incorporem modalidades sensório-motoras para abordar os déficits proprioceptivos e reduzir o risco de lesões nessa população. Os storyboards de exercícios foram inovadores, não existindo precedentes para esta tecnologia educacional na literatura, demonstraram evidências de validade de conteúdo e podem ser utilizados na prática clínica para guiar a elaboração de programas de exercícios para adultos com hemofilia, com potencial de ampliar o acesso à prática segura de atividade física, bem como de oferecer uma ferramenta para auxiliar profissionais de saúde a prescreverem com mais segurança e confiança.