HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA macroglobulinemia de Waldenström (MW) é uma neoplasia linfoplasmocítica caracterizada pela produção excessiva de IgM monoclonal. Mutações somáticas no gene CXCR4 são observadas em aproximadamente 30–40% dos casos, geralmente em associação com a variante L265P no MYD88. Entre elas, a variante nonsense S338X (p.Ser338Ter) é uma das mais frequentes, resultando na truncagem do domínio C-terminal da proteína CXCR4. Essa alteração leva à sinalização persistente da via CXCR4/CXCL12 e à ativação sustentada de cascatas como AKT e ERK, favorecendo maior adesão das células à medula óssea e conferindo resistência parcial a inibidores de BTK, como o ibrutinibe. A detecção da S338X possui relevância prognóstica e terapêutica, auxiliando na estratificação de risco e na tomada de decisão clínica.
ObjetivosDesenvolver e validar um teste diagnóstico sensível e custo-efetivo, baseado em PCR digital (dPCR), para detecção da variante somática S338X no gene CXCR4.
Material e métodosFoi utilizada a plataforma QIAcuity (QIAGEN) e ensaio TaqMan® específico para a mutação S338X em CXCR4. Por ser uma análise não realizada por outra instituição no Brasil, o método foi inicialmente padronizado com fragmentos sintéticos de DNA contendo a alteração, visando avaliar linearidade, sensibilidade, reprodutibilidade em três frequências alélicas distintas, limite de detecção (LoD) e limite de branco (LoB). Em seguida, foram testadas amostras biológicas previamente analisadas para a variante L265P no MYD88, empregando metodologia ortogonal para comparação (NGS).
ResultadosEm todas as faixas de frequência alélica avaliadas (de 0,5% a 50%) foram observadas robustez e linearidade do ensaio. A reprodutibilidade apresentou coeficientes de variação compatíveis com os valores esperados para cada faixa de frequência alélica, utilizando DNA sintético como matriz. Os resultados das amostras biológicas analisadas foram concordantes com aqueles obtidos por metodologia ortogonal, demonstrando alta sensibilidade do método.
Discussão e conclusãoA detecção de variantes em baixas frequências alélicas é essencial para o diagnóstico preciso e para o monitoramento da resposta terapêutica, especialmente em pacientes tratados com inibidores de BTK. A dPCR oferece maior sensibilidade que a PCR quantitativa (qPCR) e representa uma alternativa mais custo- efetiva e acessível do que o sequenciamento de nova geração (NGS) para esta aplicação. Além de permitir a identificação precoce de mutações "drivers", a técnica viabiliza a detecção da carga tumoral com alta acurácia. O teste desenvolvido e validado apresenta desempenho adequado para detecção da variante S338X no CXCR4, podendo ser incorporado à rotina diagnóstica da MW, tanto para estratificação molecular quanto para o monitoramento de pacientes em tratamento com inibidores de BTK.




