HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosCandidemia em pacientes hematológicos sofreu intensa redução na sua frequência após a introdução da profilaxia antifúngica em pacientes de alto risco. No entanto, a mortalidade desta infecção persiste alta, e recentemente novos desafios como a emergência de diferentes espécies e a resistência antifúngica surgiram.
ObjetivosNeste estudo reportamos as mudanças em relação às espécies, perfil de susceptibilidade, frequência de complicações, e o impacto em prognóstico das candidemias em pacientes hematológicos.
Material e MétodosCoorte de pacientes hematológicos entre 2018 e 2025 em hospital de referência com programa de transplante de células hematopoiéticas (TCH). No período foram realizados 897 TCHs, sendo 300 alogênicos. O manejo do evento foi avaliado pela adesão ao escore EQUAL Candida. A incidência foi calculada por 1000 pacientes.dia (pt.dia), e para casos em TCH, calculou-se a incidência por TCH. Calculamos sobrevida global, mortalidade em 30 dias. Foi considerada candidemia de escape, aquele ocorrido em vigência de antifúngico.
ResultadosNo decorrer do estudo, ocorreram 44 eventos de candidemia, com uma incidência global de 0,80 eventos/1000 pt.dia. Houve aumento na incidência a partir de 2021 (0,92 × 0,62 eventos/1000 pt.dia após e antes de 2021, respectivamente), com predomínio C. parapsilosis em todos os anos. A incidência de C. krusei/glabrata aumentou de 0,09 para 0,15 no segundo período. Considerando casos em TCH, 10 casos foram pós autólogo e 18 pós alogênico (incidências de 1,7% e 6%). Em relação as características dos eventos, a idade mediana dos pacientes foi 40 anos (variando de 2 a 82, sendo 7 eventos em crianças), e doenças mais frequentes: LMA (25%), LLA (18%), e LNH (16%). 27 (63%) foram candidemias de escape: destes 44% em fluconazol e 15% em equinocandina. Das candidemias de escape, 48% foram por C parapsilosis e 22% por C. tropicallis. Dos eventos sem profilaxia, C albicans e tropicallis representaram 50% dos casos. Em 10% do total de casos, o óbito ocorreu antes do resultado da hemocultura (sobrevida ao diagnostico 90%), sendo o tratamento antifúngico instituído em 91% dos casos, predominantemente com equinocandina. Dos pacientes tratados, ecocardiograma foi realizado em 86%, detectando endocardite em 7% (3 casos), pelas seguintes espécies C. albicans, C. krusei e C. tropicalis. Antifungigrama foi realizado em apenas 55%, e identificou resistência a voriconazol em dois isolados de C. tropicalis (2 de 3 testados – 67%) e um de C. parapsilosis, além de uma C. glabrata resistente a caspofungina. Fundoscopia foi realizada em 59% dos casos, sem identificação de implantes. Sobrevida global em 30 dias foi 56% dos tratados; sendo C. albicans (38 × 69%) e C. parapsilosis (90% vs. 46%; p=0,013) as espécies associadas com pior e melhor SG, respectivamente.
Discussão e conclusãoHouve um aumento na incidência de candidemia, e eventos de escape ocorrem em todas as modalidades de profilaxia. C. krusei e glabrata estão mais frequentes e a sobrevida global pós candidemia foi impactada, especialmente nos casos por C. albicans. A presença de endocardite em 7% dos pacientes e a detecção de cepas resistentes, principalmente entre C tropicalis reforçam a necessidade de adesão integral às boas práticas, e a vigilância constante em cenários de alto consumo de antifúngicos em pacientes de alto risco.




