HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosEm razão do aumento da presença de contaminantes artificiais no meio ambiente, torna-se cada vez mais relevante o desenvolvimento de estudos que permitam avaliar como e se, tais elementos são capazes de influenciar a saúde de animais-humanos e não-humanos. Dentre os contaminantes ambientais que historicamente mais geram debates sobre questões relacionadas ao meio ambiente e à saúde pública, destacam-se os agrotóxicos, onde, o uso indiscriminado dessas substâncias e seu manuseio inadequado tem sido motivo de discussão em diversos países, inclusive no Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas no mundo. A exposição a substâncias tóxicas, como os agrotóxicos, é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças, incluindo doenças infecciosas virais, como a causada pelo SARS-CoV2.
ObjetivosO presente estudo, teve como principal objetivo investigar o impacto do glifosato em componentes da resposta imune antiviral através da análise de uma coorte exposta de maneira ocupacional a este agrotóxico (glifosato) na zona rural de Teresópolis (RJ) e por análises in vitro com células humanas e murinas.
Material e métodosAnálise de coorte de indivíduos de regiões rurais e urbanas de Teresópolis e amostras de PBMCs. Análise da produção de anticorpos anti-proteína Spike (S) do SARS-CoV-2 em residentes da região urbana e rural de Teresópolis por ELISA. Detecção de citocinas produzidas por PBMCs tratadas com glifosato. Análise em citometria de fluxo de linfócitos T CD8+ murinos expostos ao glifosato.
ResultadosFoi detectado um aumento no número de leucócitos por mm3 entre os grupos expostos > 5 anos. Também foi observado um aumento significativo no número de linfócitos circulantes no sangue periférico no grupo de indivíduos com exposição passada ao pesticida (> 5 anos). O grupo de indivíduos expostos ao glifosato no passado (> 5 anos) apresentou um valor do somatório da densidade óptica (Σ D.O. = 1,076) de mediana inferior aos demais grupos para a titulação de anticorpos anti-proteína S. Em análises in vitro, foi possível observar um aumento produção de IL-6 na presença do agonista do receptores TLR3, o Poly:C. Não foi observada alteração significativa no percentual de células T CD8+ murinas produtoras de IFNγ e TNFα ou nos níveis de produção de TNFα. Entretanto, os níveis de IFNγ foram significativamente reduzidos pelo tratamento com glifosato, bem como a expressão de granzima B, que foi significativamente afetada pelo tratamento por este agrotóxico.
Discussão e conclusãoOs resultados apresentados neste trabalho, demonstraram a capacidade do glifosato de interferir na produção de citocinas pró-inflamatórias, como IL- 6, bem como na capacidade citotóxica de linfócitos T CD8+ a partir da redução dos níveis de IFNγ e granzima B, componentes essenciais no desenvolvimento de uma resposta imunológica eficiente, sobretudo em casos de infecção viral. Também foi possível observar alteração na contagem de leucócitos e de linfócitos de indivíduos expostos no passado (há mais de 5 anos) a este agrotóxico. Tais resultados reforçam a necessidade de maiores avaliações tanto in vitro quanto in vivo sob o impacto deste herbicida em diferentes componentes do sistema imune. Além disso, destaca-se a necessidade do acompanhamento dos trabalhadores das regiões onde este agrotóxico é utilizado, de modo a esclarecer como se encontram outros componentes relacionado à saúde dos indivíduos expostos ao glifosato.




