HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia é uma doença hemorrágica hereditária rara, com padrão de herança recessiva ligado ao cromossomo X, caracterizada pela deficiência dos fatores de coagulação VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B). Do ponto de vista clínico, a principal manifestação da doença é a ocorrência de episódios hemorrágicos, sendo as articulações ‒ especialmente cotovelos, joelhos e tornozelos ‒ os locais mais acometidos. A repetição desses episódios de sangramento intra-articulares, denominados hemartroses, pode evoluir para artropatia hemofílica, condição que resulta em instabilidade articular, deformidades, rigidez e dor crônica, comprometendo de maneira significativa a qualidade de vida dos pacientes. A Artroplastia Total do Joelho (ATJ) é considerada o tratamento padrão-ouro para pacientes com artropatia hemofílica em estágio terminal, com melhora da amplitude de movimento e redução dos déficits funcionais.
Descrição do casoPaciente do sexo masculino, de 44 anos, com Hemofilia A grave foi submetido à avaliação fisioterapêutica no pós-operatório de um mês, três meses e dez meses da artroplastia total de joelho direito. A avaliação do desempenho funcional incluiu a dinamometria isocinética dos extensores e flexores de joelho bilateralmente, o Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M), o Timed Up and Go (TUG) e a aplicação dos questionários Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC) e Short Form (SF-12). O paciente realizou duas sessões de fisioterapia por semana no período aproximado de três meses. Na avaliação por meio da dinamometria isocinética, o paciente apresentou melhor desempenho no terceiro mês pós-operatório. Contudo, os valores de pico de torque dos músculos flexores e extensores, tanto no joelho operado quanto no contralateral, permaneceram abaixo dos parâmetros de referência para indivíduos saudáveis do mesmo sexo e faixa etária. Tal resultado pode estar relacionado à artropatia já instalada no joelho esquerdo. Até o momento, não foram identificados na literatura estudos que utilizaram o dinamômetro isocinético para monitorar a recuperação da força muscular em pacientes com hemofilia submetidos à ATJ, o que reforça a relevância deste relato. No TC6M, o paciente apresentou um aumento progressivo da distância percorrida, porém ainda abaixo do esperado. No TUG, obteve valores decrescentes nas avaliações subsequentes e atingiu a diferença mínima detectável para ATJ após 6 meses. Em relação ao questionário WOMAC, o paciente alcançou a diferença clinicamente importante mínima na avaliação de três meses. Com o SF-12, observou-se uma maior pontuação no componente físico no primeiro mês e no componente mental no terceiro mês de pós-operatório. O paciente não realizou uma avaliação funcional prévia à cirurgia, o que limita comparações longitudinais e a análise da real magnitude da recuperação funcional. Essa limitação destaca a importância de ampliar e padronizar os métodos de avaliação funcional nessa população.
ConclusãoA ATJ representa uma importante estratégia terapêutica na abordagem da artropatia hemofílica. Os métodos de avaliação pós-operatória são diversos e, como evidenciado neste relato de caso, devem ser incorporados e padronizados na rotina de acompanhamento pré-operatório dessa população, contribuindo para um melhor monitoramento da recuperação funcional e qualidade de vida. Pesquisa aprovada no Comitê de Ética (CEP) ‒ número do parecer: 7.749.021




