HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Febre Amarela (FA) é uma doença infecciosa aguda, que pode cursar com uma diátese hemorrágica grave, cujo mecanismo ainda não é bem esclarecido. Compreender as bases desse distúrbio pode auxiliar no diagnóstico e tratamento dos casos graves.
ObjetivosAvaliar a hemostasia em pacientes hospitalizados com FA, através do Teste de Geração de Trombina (TGT).
Material e métodosEstudo transversal que avaliou os parâmetros de TGT (Potencial Endógeno de Trombina [PET], pico de trombina e lag phase) em adultos com FA moderada (internados em enfermaria) e graves (internados em Centro de Tratamento Intensivo [CTI]) do Hospital Eduardo de Meneses (Belo Horizonte/MG). Os pacientes foram incluídos entre dezembro/2017 e abril/2018. O plasma dos pacientes foi coletado no momento da internação, centrifugado duplamente e congelado a -80°C. O TGT de cada amostra foi analisado em duplicata, com e sem a adição de Trombomodulina (TM). Os resultados foram comparados aos parâmetros de 40 controles sem FA e entre os grupos de FA. As comparações foram consideradas significativas quando p < 0,05.
ResultadosForam incluídos 42 pacientes, dos quais 26 foram classificados como FA moderada e 16 como grave. A maioria era do sexo masculino (83,4%), mediana de idade de 46 anos (Intervalo Interquartil [IQR] 38–52). Os pacientes foram admitidos com uma mediana de 3 dias de início de febre (IQR 2–7), mediana de AST 358 IU/l (IQR 126‒2426), tempo de trombina em segundos, mediana de 21, (IQR 19‒27) e de creatinina 1 mg/dL, (IQR 0,7‒1,5). Em comparação com controles normais, pacientes com FA moderada na presença de TM apresentaram maior lag time (p<0,001) e menor PET (p<0,001) sem diferença no pico (p=0,498). Na ausência de TM, os resultados foram similares (maior lag time [p<0,001], menor PET [p=0,009] e sem diferença no pico [p=0,599]) em comparação com controles, respectivamente. Na comparação pareada, a presença de TM não alterou o lag time (p = 0,603), mas reduziu o PET (p = 0,038) e o pico de trombina (p = 0,048). Na FA grave, na presença de TM, os pacientes apresentaram maior lag time (p = 0,024) e menor PET (p < 0,001) e pico menor (p < 0,001) que os controles. Na ausência de TM, o PET (p = 0,002) e pico (p = 0,004) foram menores que nos controles, porém sem diferença no lag time (p = 0,08). Na análise pareada, a presença de TM reduziu o lag time (p = 0,005), o PET (p = 0,015) e o pico de trombina (p = 0,006). No TGT com adição de TM, pacientes com FA grave apresentaram PET (295,92 vs. 601,25; p = 0,015) e pico de trombina (45,36 vs. 150,40; p < 0,001) menores em comparação com FA moderada, respectivamente, porém sem diferença no lag time (10,63 vs. 9,08; p = 0,835), respectivamente. No TGT sem adição de TM, pacientes com FA grave apresentaram PET (344,81 vs. 616,37; p = 0,027) e pico de trombina (40,88 vs. 171,31; p = 0,004) menores em comparação com FA moderada, respectivamente, sem diferença no lag time (10,25 vs. 8,50; p = 0,838).
Discussão e ConclusãoEsse estudo demonstra haver uma disfunção hemostática nas fases iniciais e de propagação da coagulação na FA moderada. Na FA grave ocorre uma redução pronunciada da ativação da coagulação e menor geração total e máxima de trombina, corroborando com a grave diátese hemorrágica nesses casos. Houve redução do PET e pico de trombina tanto na presença quanto na ausência de TM na reação. Como esperado, a adição de TM reduziu os parâmetros de pico de trombina e PET. Esse é o primeiro estudo a avaliar o TGT em pacientes com FA.




