HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Hemofilia é um distúrbio hemorrágico ligado ao cromossomo X, caracterizado pela deficiência do fator de coagulação VIII (Hemofilia A), ou do fator IX (Hemofilia B). A apresentação clínica é caracterizada por sangramentos intra-articulares (hemartroses), hemorragias musculares e sangramentos em outros tecidos ou cavidades corporais. As hemartroses representam 70%‒80% das manifestações hemorrágicas mais frequentes, podendo afetar as articulações do joelho, tornozelo e cotovelo. Os sangramentos nas articulações recorrentes resultam em alterações sinoviais (sinovite) e danos à cartilagem, evoluindo para artropatia hemofílica. A sinovite pode ocasionar hemartroses recorrentes e sangramentos subclínicos (micro sangramentos) tornando a sinóvia cronicamente inflamada e hipertrófica. Um ciclo vicioso de sangramento pode se instalar com perda de movimento articular, levando a danos irreversíveis ósseos e condrais. O objetivo do manejo de hemorragias específicas não é apenas tratar o sangramento, mas também prevenir sua recorrência, suprimindo a ativação sinovial, reduzindo a inflamação. A embolização arterial é uma técnica minimamente invasiva utilizada para o controle das hemorragias em diversas condições clínicas. Ela pode ser uma opção confiável e custo efetiva no controle desses vasos-alvo na articulação afetada podendo reduzir a vascularidade e controlar a hemartrose.
Descrição do casoEntre fevereiro de 2023 e maio de 2024, 14 pacientes foram submetidos à embolização superseletiva das artérias-alvo com micropartículas esféricas inabsorvíveis Embosphere 100‒300 micrômetros (Biosphere Medical, Roissy, França), até atingir a estase vascular parcial e a descaracterização do realce sinovial patológico. Avaliações, testes e questionários (Hemophilia Joint Health Score [HJHS], Teste Timed Up and Go [TUG], Teste de Sentar e Levantar em 30 segundos [TSL30], Escala de Classificação Numérica da Dor [ECN 0–10], Knee Injury and Osteoarthritis Outcome Score [KOOS] e HAEM-A-QOL) foram realizados no pré- procedimento e após 1, 3, 6 e 12 meses da embolização. Nos 4 casos de embolização de cotovelo observou-se após 1 ano, redução significativa na percepção da dor, com queda da média na ECN de 6,5 para 2. A avaliação física, por meio do HJHS, também apresentou melhora, com redução do escore médio de 45 para 42,5. Sendo também observada esta melhora na Qualidade de Vida (HAEMO-QOL), com a média passando de 88,75 para 82. Nos 6 procedimentos realizados em tornozelos após um ano, a média de dor referida caiu de 7,1 para 4,6, enquanto o HJHS reduziu de 33,4 para 28,8. A capacidade funcional também apresentou uma discreta melhora, com aumento na média do Teste Senta e Levanta de 8 para 10 e no tempo de execução do TUG, passando de 8 para 7,8 segundos. Por outro lado, a qualidade de vida mostrou queda, com a média passando de 89,8 para 78,6. Nas 11 embolizações realizadas em joelhos, os resultados em 1 ano mostraram melhora clínica e funcional relevante. A dor, segundo a ECN, caiu de 7 para 4, enquanto o HJHS passou de 41,1 para 35,7. O desempenho no TSL aumentou de 8 para 11, e o tempo no TUG reduziu de 8,2 segundos para 7,6 segundos. A qualidade de vida, que inicialmente apresentava média de 102, melhorou significativamente, com escore reduzido para 83. Além disso, o KOOS também apresentou melhora substancial, passando de 40 para 57.
ConclusãoA embolização arterial se mostra um procedimento promissor no manejo da sinovite em Hemofílicos, promovendo alívio da dor e melhora da qualidade de vida.




