Hemorragias digestivas e politraumas representam causas frequentes de internações e alta morbimortalidade hospitalar. Nestes contextos, transfusões emergenciais são essenciais para estabilização hemodinâmica. No entanto, o citrato presente nos hemocomponentes pode induzir a redução dos níveis de cálcio, impactando negativamente a cascata de coagulação e o prognóstico clínico. O rebaixamento de níveis de cálcio tem sido reconhecido como componente adicional do “diamante da morte” nos cuidados ao paciente crítico.

Investigar a influência dos níveis de cálcio ionizado na evolução clínica de pacientes com Hemorragia Digestiva (HD) e politrauma submetidos a transfusões emergenciais, analisando desfechos clínicos, tempo de internação e mortalidade. Avaliar diferenças entre diagnósticos e a associação com o tipo e quantidade de hemocomponentes transfundidos.

Estudo transversal, descritivo e retrospectivo com abordagem quantitativa, realizado em hospital universitário terciário no Paraná, Brasil. A amostra incluiu 83 pacientes internados entre abril e setembro de 2024, com diagnóstico de HD ou trauma. Foram analisadas variáveis clínicas, laboratoriais e transfusionais. Os níveis de cálcio ionizado foram avaliados na admissão e após 24 horas da primeira transfusão. Utilizaram-se testes de normalidade (Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov), Mann-Whitney, correlação de Spearman, teste t de Student e coeficiente d de Cohen, com p < 0,05.

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (81,9%) e o diagnóstico predominante foi politrauma (60,2%). A média de idade foi 49,8 anos. A taxa de mortalidade geral foi 50,6%, maior no grupo com HD. Observou-se tendência à níveis menores de cálcio em pacientes com trauma, principalmente nas primeiras 24h, embora sem significância estatística. O coeficiente d de Cohen indicou efeito moderado para níveis mais baixos de cálcio no grupo trauma (d=-0,691). Níveis de cálcio menores foram associados a internação mais prolongada e maior necessidade de suporte intensivo.

Os achados demonstram que, embora estatisticamente não significativa, níveis menores de cálcio foram mais frequentes e intensos em pacientes com trauma. Em contraste, pacientes com HD apresentaram mortalidade mais elevada, possivelmente associada à idade mais avançada e presença de maior incidência de comorbidades. A análise sugere impacto clínico relevante de níveis de cálcio menores mesmo em ausência de significância estatística, corroborando evidências da literatura sobre seu papel prognóstico.