A Fundação HEMOPA é referência no diagnóstico e tratamento de doenças hematológicas no Estado do Pará. Enfermidades como doença falciforme, aplasia medular e anemia de Fanconi frequentemente possuem indicação para o transplante de medula óssea (TMO), um tratamento de alta complexidade viabilizado pelo SUS. Como o procedimento ainda não é realizado no estado, os pacientes são encaminhados para centros transplantadores localizados em outras unidades federativas, como São Paulo, Recife e Curitiba. Esse deslocamento impõe desafios clínicos, sociais, logísticos e emocionais, demandando acompanhamento integral e contínuo, sobretudo da equipe psicossocial.

Relatar a experiência da equipe de apoio psicossocial da Fundação HEMOPA no acompanhamento de pacientes com indicação de TMO, evidenciando os desafios enfrentados, as estratégias de cuidado adotadas e a importância da escuta acolhedora e da articulação em rede.

Trata-se de um relato descritivo da prática da equipe multiprofissional do hemocentro, com ênfase nas áreas de serviço social e psicologia. O atendimento inicia-se com acolhimento humanizado e escuta individualizada, respeitando a singularidade biopsicossocial e cultural do paciente. As ações acompanham todo o percurso: avaliação psicológica para tomada de decisão; organização logística com o programa de tratamento fora de domicílio (TFD); encaminhamento aos centros transplantadores; cadastramento em centrais de regulação; articulação com casas de apoio nos estados de destino; além do suporte remoto contínuo após o deslocamento. Este relato não envolve coleta de dados identificáveis e está dispensado de submissão ao Comitê de Ética, conforme a Resolução n° 510/2016, sendo observados os princípios éticos de confidencialidade, privacidade e respeito à dignidade humana, conforme preconiza a Resolução n° 466/2012 do CNS.

A atuação psicossocial permitiu o encaminhamento de pacientes oriundos de diversos municípios paraenses, muitos em situação de vulnerabilidade social e com baixo letramento. Foram identificadas dificuldades no acesso ao TFD, insegurança frente ao deslocamento, limitações na compreensão dos fluxos institucionais e falhas de comunicação com os centros transplantadores. O suporte contínuo, por meio de escuta ativa, orientação e articulação institucional, contribuiu para a superação desses entraves, promovendo maior estabilidade emocional, adesão ao tratamento e fortalecimento dos vínculos entre os serviços de origem e destino.

A experiência destaca a importância do apoio psicossocial como eixo estruturante no cuidado integral ao paciente candidato ao TMO. Em um cenário de alta complexidade, com múltiplas vulnerabilidades e deslocamento interestadual, a atuação multiprofissional garante acesso seguro e humanizado. A personalização do cuidado, o suporte emocional, a linguagem acessível e a articulação eficaz entre os pontos da rede de atenção são essenciais para a dignidade e efetividade terapêutica. O apoio psicossocial oferecido pela Fundação HEMOPA tem sido fundamental na viabilização do tratamento via TMO, promovendo humanização do cuidado, fortalecimento da rede de apoio e preservação da integridade emocional dos pacientes e familiares. A experiência reafirma a importância da atuação integrada e sensível da equipe multiprofissional, especialmente em contextos amazônicos com desigualdades estruturais.