HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO sistema ABO representa o grupo sanguíneo de maior relevância clínica, destacando-se pela presença de anticorpos naturais regulares, majoritariamente da classe IgM, com alto potencial hemolítico mediado por ativação do complemento. Dentre os indivíduos do grupo A, o subgrupo A1 é o mais prevalente (∼80%), caracterizado por alta expressão do antígeno A. O subgrupo A2, presente em cerca de 20% dos indivíduos A, possui menor expressão antigênica. Aproximadamente 1%–8% dos indivíduos A2 ou A2B podem desenvolver anticorpos anti-A1, usualmente do tipo IgM, com reatividade em temperaturas frias (≤ 25°C) e baixa relevância clínica. Contudo, formas raras de anti-A₁ da classe IgG, com atividade a 37°C, podem induzir hemólise intravascular e reações transfusionais agudas.
Material e métodosForam realizadas tipagens ABO direta e reversa, tipagem RhD, pesquisa de anticorpos irregulares (PAI), Teste Direto da Antiglobulina humana (TAD) e Provas de Compatibilidade (PC), utilizando metodologia em gel (cartões, reagentes e hemácias-teste Bio- Rad®). A prova com lectina Dolichos biflorus (anti-A1) foi conduzida em tubo à temperatura ambiente, com reagente da Fresenius Kabi®.
Relato de casoPaciente do sexo feminino, 70 anos, G2P2, com histórico de transfusão, foi indicada para transfusão de Concentrado de Hemácias (CH) devido à anemia pós-endarterectomia. A tipagem inicial indicou grupo sanguíneo A RhD positivo, com TAD e PAI negativos. No entanto, observou-se incompatibilidade nas provas de compatibilidade com CHs A RhD positivos, cujos TADs estavam igualmente negativos, sendo os CHs O RhD positivos compatíveis. A reavaliação da tipagem ABO com incubação a 4°C revelou reatividade com hemácias A1 e B. A presença do subgrupo A2 foi confirmada por reação negativa à lectina Dolichos biflorus. Considerando a presença de anti-A₁ com reatividade à 37°C, optou-se pela transfusão de CHs O RhD positivo, sem intercorrências clínicas.
DiscussãoCerca de 20% dos indivíduos do grupo A pertencem a subgrupos, sendo o A2 o mais prevalente entre eles. A identificação destes subgrupos tem implicações clínicas importantes, sobretudo diante de discrepâncias ABO ou ocorrência de anticorpos anti-A₁ com amplitude térmica significativa. A genotipagem constitui o método diagnóstico definitivo, embora indisponível em muitos serviços brasileiros. A identificação sorológica com lectina Dolichos biflorus é fundamental para distinção entre A1 e A2. A prevalência de anti-A1 clinicamente significativo é rara, mas, quando presente, pode levar à hemólise mediada por complemento após transfusão de hemácias A1, configurando um risco transfusional relevante.
ConclusãoApesar da maioria dos anticorpos anti-A₁ serem IgM naturais e clinicamente irrelevantes, a identificação de variantes IgG com reatividade a 37°C exige atenção, dado seu potencial de provocar hemólise e reações transfusionais graves. A investigação laboratorial com uso de lectinas e determinação da amplitude térmica do anticorpo é essencial na condução segura da terapêutica transfusional em pacientes com suspeita de subgrupo A2.
Referências:
AABB. (2023). AABB Technical Manual (21st ed.). AABB. Helmich F te al. Acute hemolytic transfusion reaction due to a warm reactive anti-A1. Transfusion. 2018 May;58(5):1163- 1170. doi: 10.1111/trf.14537. Epub 2018 Feb 26. PMID: 29484668.




