HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosConsiderado uma espécie sentinela, o boto-de-rio desempenha um papel crucial como indicador da saúde ambiental. Pesquisas indicam que a poluição ambiental e o estresse são fatores que podem alterar os exames bioquímicos e os perfis hematológicos dos cetáceos. Valores hematológicos e morfométricos podem ser utilizados para detectar alterações e estabelecer diferenças entre estados de saúde e doença, principalmente em animais silvestres de vida livre, cujas informações são escassas ou ausentes. Nesse contexto, compreender o estado de saúde de indivíduos de áreas com diferentes intensidades de antropização é fundamental para orientar estratégias de manejo voltadas à conservação das espécies.
ObjetivosAvaliar se os parâmetros hematológicos e os dados de morfometria celular de botos- do-Araguaia (Inia araguaiaensis) que habitam uma área antropizada do rio Tocantins, no município de Mocajuba (Pará), apresentam alterações em comparação aos dados de estudos realizados em ambientes não antropizados.
Material e métodosOs procedimentos deste estudo foram previamente aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia (CEUA-UFRA, protocolo n° 5342120922), pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Licenças SISBIO n° 44915-16 e 94110-1) e pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará (Licença n° 5331/2023). Foi realizada a avaliação hematológica de animais que frequentam a região do rio Tocantins em frente ao Mercado Municipal de Mocajuba. Os hemogramas foram realizados manualmente e a contagem diferencial de leucócitos em esfregaços sanguíneos corados com Wright-Giemsa. As imagens fotomicrográficas e mensurações foram capturadas pela câmera Opticam 20. 3MP acoplada ao microscópio OPTICAM O400S e software específico.
ResultadosQuatro I. araguaiaensis foram capturados (2 machos e 2 fêmeas), monitorados e submetidos a exame clínico. Os parâmetros hematológicos dos botos mostraram leve declínio na contagem de leucócitos, hemoglobina, eritrócitos, CHCM e plaquetas, com aumento moderado no VCM. A morfometria celular mostrou semelhança apenas no diâmetro dos eritrócitos e neutrófilos em relação a Inia geoffrensis, uma vez que ainda não existem valores de morfometria para Inia araguaensis. O diâmetro médio dos eritrócitos foi de 7,70 µm, neutrófilos 13,06 µm, linfócitos 8,80 µm, eosinófilos 12,68 µm, monócitos 18,34 µm e plaquetas 2,56 µm.
Discussão e conclusãoO estudo revela impactos na saúde dos botos do rio Tocantins, ao afetar parâmetros hematológicos com evidências de anemia leve, leucopenia e imunossupressão. A ausência de infraestrutura sanitária no local pode justificar essas alterações encontradas em comparação a estudos anteriores nos quais os animais eram provenientes de ambientes com pouca ou nenhuma antropização. Os dados sugerem estresse ambiental crônico e demonstram respostas adaptativas às condições adversas. Os achados deste estudo evidenciam uma relação preocupante entre o manejo inadequado de resíduos no rio Tocantins em Mocajuba e os impactos à saúde dos botos-do-Araguaia. A continuidade de pesquisas com amostragens mais amplas e representativas em áreas não antropizadas é essencial para estabelecer valores hematológicos de referência e compreender com maior precisão os impactos da contaminação crônica sobre populações de cetáceos que habitam ambientes fluviais que sofrem ações antrópicas.




