A hemotransfusão evoluiu significativamente na última década com a implementação de diretrizes clínicas baseadas em evidências, segundo as quais o uso de hemoderivados deve seguir limiares transfusionais restritivos equivalentes em eficácia. Além disso, conhecer o padrão de transfusões, as características demográficas dos receptores, suas condições clínicas e os riscos associados é essencial para dimensionar as demandas atuais e futuras.

Analisar as solicitações de hemocomponentes no ano de 2022 em um hospital de Belém do Pará, considerando achados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais relacionados à indicação desses hemocomponentes.

Trata-se de um estudo observacional, descritivo e retrospectivo, com coleta de dados feita através do sistema de banco de dados da instituição, no período de janeiro a dezembro de 2022, com posterior análise estatística dos achados e tabulação dos resultados encontrados.

Foram identificadas 879 transfusões no período, com predomínio do sexo feminino (71,7%) com média de idade de 44 anos. A maioria das transfusões ocorreram em unidade de terapia intensiva (49,1%) com predomínio de doenças hematológicas (29,7%) e doenças infecciosas (16%). A análise também revelou 96,9% das solicitações estavam em conformidade com os protocolos estabelecidos. O concentrado de hemácias foi o hemocomponente mais solicitado, com indicação em 75,4%dos casos, sendo requisitado com muita frequência dois componentes e realizado um componente, seguido pelo plasma e pelas plaquetas.

A maioria das transfusões foi solicitada em caráter de urgência, com predominância do uso de concentrado de hemácias, frequentemente solicitado em maior número do que efetivamente realizado. A adesão aos protocolos transfusionais foi amplamente satisfatória, observando-se diferenças estatisticamente significativas entre sexo, idade, caráter da indicação e tipo de hemocomponente solicitado, além de variações no perfil das doenças de base conforme o setor hospitalar. Esses achados indicam uma utilização adequada dos hemocomponentes na maioria das situações. Cumprir rigorosamente as diretrizes transfusionais é essencial para garantir a segurança dos pacientes ‒ minimizando o risco de reações adversas ‒ e reflete a qualidade do atendimento prestado, demonstrando também a competência e a adequada formação técnica das equipes médicas e de enfermagem envolvidas no processo. O perfil das transfusões no hospital analisado está alinhado com as diretrizes vigentes, refletindo uma prática responsável na utilização de hemocomponentes. Destaca-se a importância da continuidade na coleta e análise de dados sobre transfusões para aprimorar as políticas de gerenciamento e garantir a segurança dos pacientes.