A dengue representa uma arbovirose de alta relevância para a saúde pública, sobretudo em países tropicais como o Brasil, onde surtos recorrentes impactam diretamente os serviços de saúde. Dentre as complicações clínicas da infecção pelo vírus da dengue, destaca-se a trombocitopenia, que pode evoluir para quadros hemorrágicos graves. Embora a transfusão de plaquetas seja prática comum em casos de queda acentuada da contagem plaquetária, seu uso indiscriminado, especialmente durante a fase crítica da doença, pode não ser eficaz e gerar desperdício de hemocomponentes.

O estudo teve como objetivo principal analisar a relação entre a incidência de casos graves de dengue, o consumo e o descarte de concentrado de plaquetas (CP) no estado do Paraná durante o período epidemiológico de 2023/2024.

Trata-se de um estudo descritivo e analítico, com abordagem quantitativa, baseado em dados secundários. Foram utilizados registros da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA/PR) sobre casos de dengue, além de dados do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (HEMEPAR) referentes à produção, consumo e descarte de CP. As informações foram organizadas por macrorregiões de saúde e analisadas por meio de estatística descritiva e teste de correlação de Spearman, com significância estabelecida em p < 0,05.

Durante o período analisado, houve aumento significativo no número de casos de dengue no estado, com maior concentração nas macrorregiões Norte e Oeste. A produção de CP cresceu 6%, enquanto o consumo aumentou 4,1%, em comparação ao período anterior. Observou- se uma correlação negativa moderada entre o número de casos graves e o descarte de bolsas por vencimento (p<0,05), sugerindo que a demanda clínica contribuiu para a redução do desperdício. No entanto, a correlação entre o número total de casos graves e o consumo de CP não foi estatisticamente significativa (p>0,05). A macrorregião Oeste destacou-se por apresentar correlação de moderada a forte entre consumo e casos graves, com significância estatística.

Os dados indicam que, embora a epidemia tenha levado a um aumento na utilização de CP, o uso não foi uniforme entre as regiões e nem sempre acompanhou a gravidade dos casos notificados. A adoção de protocolos clínicos mais rígidos pode ter influenciado o uso mais criterioso das plaquetas, refletindo-se na redução do descarte por validade. A análise regionalizada permitiu identificar diferenças importantes na gestão de hemocomponentes, revelando a necessidade de estratégias específicas conforme o perfil epidemiológico e logístico de cada macrorregião. O estudo reforça a importância do planejamento e do monitoramento do uso de hemocomponentes durante períodos epidêmicos. A racionalização do uso de CP e a capacitação contínua dos profissionais de saúde são fundamentais para assegurar a adequada utilização dos recursos hemoterápicos e a segurança dos pacientes. Os achados contribuem para o aprimoramento das práticas de gestão em saúde e para a construção de políticas públicas mais eficientes em contextos de epidemia de arboviroses.