A reserva e transfusão de hemocomponentes no pré-operatório deve considerar critérios clínicos e laboratoriais baseados em evidências para garantir segurança e uso racional dos recursos. O Patient Blood Management (PBM), visa otimizar o uso do sangue por meio do manejo da anemia, redução da perda sanguínea e aumento da tolerância do paciente à anemia. O Índice de Pacientes Transfundidos (IPT) possibilita calcular a probabilidade de necessidade de transfusão, a partir dele, calcula-se o Maximum Surgical Blood Ordering Schedule (MSBOS), permitindo a padronização das reservas, diminuição de desperdício e melhor gerenciamento dos estoques.

Analisar a adequação das solicitações e transfusões de hemocomponentes no perioperatório de cirurgias eletivas da cirurgia geral (CG) em um hospital público de Belo Horizonte – MG.

Estudo observacional, retrospectivo e descritivo, de 278 agendamentos de cirurgias eletivas da CG de outubro a dezembro de 2024. Os dados foram coletados por pesquisadores independentes via prontuários físicos e sistema SOULMV. As solicitações de hemocomponentes foram avaliadas segundo critérios clínicos, laboratoriais e justificativas, considerando inconsistências como inadequação.

106 (38,1%) dos procedimentos agendados foram realizados.A colecistectomia videolaparoscópica foi o procedimento frequente (42%). Para 31 (29%) dos procedimentos agendados foi solicitada reserva de hemocomponentes. Foram reservadas 130 unidades de plasma fresco congelado, 100 unidades de pool de plaquetas e 79 unidades de crioprecipitado, nenhuma delas foi utilizada. Das 200 unidades de concentrado de hemácias (CH) solicitadas, 11 (5,5%) foram transfundidas em 7 pacientes (6,6%), 5 durante a cirurgia e 2 nas primeiras 24 horas pós-operatórias. Dados de hemoglobina intra ou pós-operatória não foram registrados, dificultando a avaliação da necessidade transfusional. A maioria dos pacientes apresentava hemoglobina pré-operatória > 7 g/dL, valor isoladamente insuficiente para indicação transfusional segundo diretrizes atuais. A adequação da quantidade reservada foi avaliada comparando-a à quantidade descrita em tabelas da literatura. A quantidade de hemocomponentes reservados estava acima da sugerida na literatura consultada. Observou-se também reserva de concentrado plaquetas para pacientes com plaquetometria normal, sem justificativa documentada na solicitação. Embora essencial para segurança cirúrgica, observou-se um elevado número de reservas inadequadas, sem padronização, resultando em preparo desnecessário e desperdício. O preenchimento incompleto dos formulários dificultou a identificação justificativas clínicas que fundamenta a reserva, comprometendo a eficiência do processo decisório pela equipe transfusional. A alta prevalência de anemia reforça a necessidade de protocolos institucionais para sua abordagem pré-operatória, alinhados ao PBM, para otimizar desfechos e minimizar transfusões desnecessárias.

O estudo evidenciou inadequação nas solicitações de reserva de hemocomponentes, com excesso de pedidos em relação às recomendações da literatura. Implementar o PBM e um protocolo de reservas baseado no IPT local, será importante para facilitar o gerenciamento do estoque, promover uso racional, reduzir custos e garantir maior segurança ao paciente.