HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA transfusão de sangue, embora importante e cada vez mais segura, ainda apresenta riscos ao paciente. Segundo a Portaria da Consolidação n° 05/2017 do Ministério da Saúde, preferencialmente, as transfusões devem ocorrer no período diurno. Esta recomendação baseia-se na probabilidade de eventos adversos associados a baixa vigilância no período da noite em setores fora das unidades fechadas e emergências. A transfusão noturna também pode afetar o ciclo circadiano do paciente impactando negativamente na sua recuperação.
ObjetivosAvaliar o perfil dos pacientes que receberam transfusões no período noturno (entre 19h e 07h) em enfermarias e/ou quartos nos anos de 2019 a 2024 em três Hospitais Privados do Rio de Janeiro e criar estratégias e protocolos para garantir mais segurança aos atendimentos.
Material e métodosEstudo retrospectivo e observacional realizado por meio de análise dos registros de transfusões noturnas em setores de baixa vigilância e nos prontuários dos pacientes internados nos Hospitais Casa de Portugal, Casa Evangélico e Casa de Câncer no Rio de Janeiro – RJ.
ResultadosNo período de 2019 a 2024, foram registrados 314 hemocomponentes transfundidos durante o período noturno nos hospitais envolvidos no estudo. Desse total, apenas 98 hemocomponentes (31,2%) apresentavam justificativa compatível de iniciar a transfusão em período já avançado, como por exemplo a instabilidade clínica dos pacientes. Dentre os principais motivos das solicitações tardias destacam-se atrasos na liberação do resultado do laboratório, falha e atraso em comunicar sobre a transfusão ao banco de sangue por parte da equipe assistencial e falta do hemocomponente solicitado em estoque.
Discussão e conclusãoAs reações transfusionais podem ocorrer durante a infusão da bolsa ou após a finalização dela. Por isso, a transfusão noturna em setores de baixa vigilância é um agravante para essa situação já que a maioria dos pacientes nesses setores não possui monitoramento constante dos sinais vitais e a capacidade de assistência médica e de enfermagem também é reduzida nesses horários. Mais da metade (68,8%) das transfusões realizadas a noite poderiam ter sido iniciadas no período diurno, evitando qualquer falha no monitoramento ou atraso na assistência. Apenas 31,2% das transfusões foram baseadas na instabilidade clínica dos pacientes, sendo alguns transferidos para unidades fechadas. Para evitar este excesso de transfusões noturnas sem indicação, algumas estratégias podem ser adotadas como a capacitação e treinamento das equipes médicas e de enfermagem visando a implementação de protocolos claros e padronizados, a utilização de sistemas eletrônicos de solicitação de transfusão que permitam a sinalização rápida e controlada de pedidos, com alertas ou validações automáticas para o período noturno, evitando assim atrasos no atendimento e a discussão de casos com o hemoterapeuta do hospital. Reconhecer os fatores de risco para reações relacionadas a transfusões e avaliar o quadro clínico de cada paciente, programando a solicitação para um momento mais oportuno, podem garantir não apenas uma transfusão mais segura como mais bem aproveitada. Portanto, como boa prática transfusional, a equipe médica deve avaliar a necessidade e urgência de seguir com uma transfusão noturna ou aguardar o dia subsequente.




