HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA dificuldade de adesão dos pacientes costuma mobilizar as equipes especializadas nas doenças crônicas, gerando projetos, demandas, reuniões, e tentativas de lidar com tais situações. Porém, em geral, o efeito das intervenções é parcial, e as dificuldades na adesão permanecem, bem como a frustração das equipes. Nesses momentos costuma-se acionar o psicólogo, no desejo bem-intencionado de que este profissional proporcione ao paciente uma mudança em seu posicionamento diante do tratamento. No imaginário da equipe, algumas consultas na Psicologia poderiam persuadir o paciente a aderir melhor, ou então fiscalizariam o real nível da adesão no dia a dia.
ObjetivoO presente trabalho visa esclarecer o papel do psicólogo clínico no atendimento a doentes crônicos, a partir de um posicionamento ético diante do paciente.
DiscussãoMuitas vezes se trata, sim, de trabalhar com o paciente na abordagem da Psicoeducação, instrumentalizando-o a partir de suas possibilidades de compreensão, para lidar com a doença, tratamento e autocuidado cotidiano. Tal intervenção, em geral, se baseia nas capacidades cognitivas e na dimensão da racionalidade, e tem efeitos positivos para muitos pacientes. Mas não para todos. Grande parte deles, mesmo compreendendo a doença e as recomendações médicas, age em contrário, desconhecendo suas próprias motivações para isso. O nível de informação e a compreensão racional sobre a doença influenciam a maneira como cada paciente lida com seu quadro clínico. Porém, há outros determinantes em jogo, que não são conscientes, muito menos explícitos. Pode haver uma representação simbólica da patologia na história da família, antes mesmo do diagnóstico. Existem relações entretecidas no núcleo familiar com base no enfrentamento da doença, e estas relações de cuidado, por sua vez, retroalimentam fluxos e contrafluxos emocionais, que vão se cristalizando em um funcionamento familiar padrão. Há tendências psíquicas próprias do paciente, que podem se dar em direção à maior integração e autocuidado, ou, na direção contrária, fazendo escolhas autodestrutivas – sem que ele tenha clareza sobre isto. Estes e muitos outros fatores se desenrolam simultânea e inconscientemente, no paciente e na família, toda esta complexidade determinando como se dará a adesão ao tratamento. Tais fatores podem ser trabalhados na Psicologia, possibilitando ao paciente elaborar sua relação única e individual com o quadro clínico. Somente a partir de então é que ele poderá refletir sobre a adesão que tem (ou que não tem) às propostas terapêuticas. E depois, pensar sobre o nível de adesão que deseja ter, caso deseje. Para chegar a esse ponto, um percurso se faz necessário.
ConclusãoO conhecimento sobre a doença crônica é importante, em geral é trabalhado ao longo do atendimento psicológico, mas não é seu teor total. As intervenções na Psicologia se fundamentam, antes, em reconhecer que os determinantes da adesão, embora perpassem o sujeito e seu contexto, muitas vezes agem à revelia da consciência dele. É preciso primeiro ajudar o paciente a trazê-los à tona, e colocá-los a trabalho. Este percurso se faz lado a lado com o paciente, respeitando sua possibilidade de autoconhecimento e sua suportabilidade ao processo.




