A investigação hematológica de distúrbios hemorrágicos requer uma abordagem ampliada que envolve análise laboratorial dos fatores de coagulação e plaquetas, histórico clínico e familiar, exclusão de condições adquiridas e uso de medicamentos. Em casos de sangramentos atípicos sem confirmação laboratorial, é essencial contemplar fatores psicológicos como possíveis moduladores da sintomatologia. Transtornos mentais, como ansiedade e depressão, podem impactar a hemostasia, exigindo atuação multiprofissional para compreensão integral do quadro clínico e diagnóstico diferencial.

Relatar a experiência profissional do Serviço de Psicologia da Fundação HEMOPA na interface entre saúde mental e hematologia, destacando a contribuição da avaliação psicológica no processo investigativo de distúrbios hemorrágicos.

Trata-se de um relato de experiência de abordagem qualitativa, entre maio de 2024 a junho de 2025, desenvolvido no contexto da investigação diagnóstica entre as áreas de hematologia e psicologia. A avaliação psicológica foi indicada diante da persistência de queixas de sangramentos difusos sem alterações laboratoriais compatíveis com a clínica, associadas a comportamentos sugestivos de sofrimento psíquico. O processo envolveu escuta clínica, entrevistas estruturadas, análise contextual e plano terapêutico. As informações obtidas na análise da prática profissional e identidade dos envolvidos, estão resguardados sem exposição de dados sensíveis ou pessoais, encontrando-se isento de submissão ao Comitê de Ética, conforme Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo garantido o sigilo e o respeito à confidencialidade dos subsídios.

A avaliação psicológica envolveu abordagem compreensiva e estruturada, coleta e análise de dados relevantes, devolutiva e planejamento terapêutico. A atuação psicológica permitiu identificar fatores psicopatológicos e contextuais possivelmente relacionados à queixa clínica, contribuindo para o encaminhamento da avaliação psiquiátrica e à definição terapêutica adequada, sucedendo remissão dos episódios de sangramentos. O caso destacou a importância de considerar o sofrimento psíquico como parte do processo diagnóstico.

A experiência reitera a relevância da Psicologia como componente estruturante da atenção hematológica. A integração entre saúde mental e investigação hematológica permite ampliar o olhar clínico, fortalecer a rede de cuidado e reduzir iatrogenias. Em regiões como a Amazônia paraense, marcadas por desigualdades e barreiras de acesso, a atuação multiprofissional conectada torna-se ainda mais estratégica para a promoção da saúde integral. O sofrimento psíquico pode se manifestar por sintomas psicossomáticos, exigindo sensibilidade técnica e escuta empática para o manejo adequado.

A experiência profissional evidencia que a avaliação psicológica, articulada à investigação hematológica, contribui significativamente para a construção de hipóteses diagnósticas mais abrangentes e efetivas de causa indefinida. A interconsulta entre as ciências, hematologia e psicologia, reconhece a correlação entre corpo e mente, promovendo o cuidado integral centrado na pessoa e acesso à saúde mental.

Distúrbios Hemorrágicos; Psicossomática; Saúde Mental; Transtorno Ansioso e Depressivo; Cuidado Integral.