
Validar uma nova solução crioprotetora como método de criopreservação de Linfócitos do Doador (DLI) no Setor de Criobiologia do Hospital Santa Marcelina (HSM).
Materiais e métodosPor meio de análises dos resultados de viabilidade celular, realizadas no Laboratório do HSM, nas amostras do produto DLI criopreservados com a nova solução.
ResultadosNo Setor de Criopreservação do HSM, até 2020, era usado uma solução de 60% de TC199, 30% de plasma e 10% de dimetilsulfóxido (DMSO) como crioproteção para DLI. Baseado em revisão da literatura e experiências de outros centros, mudamos a metodologia e adaptamos a nossa realidade com uma solução crioprotetora composta de DMSO, albumina humana 20% e hidroxietilamido (HES) 22,2%, para preservar a função dos linfócitos T criopreservados. As unidades de DLI foram submetidas a centrifugação e a seguir extraímos o plasma e o descartamos, iniciamos o preparo da nossa solução crioprotetora, na proporção de 1:1 do que foi processado do produto, acomodamos em placas de gelo artificial em gel para fazermos a junção entre produto e solução crioprotetora de forma lenta e homogênea. Ao término são colhidas 3 amostras em tubos criogênicos para realização de controle de qualidade e inspeção do material para assegurar sua qualidade para a infusão no paciente. Após isso, acondicionamos cada bolsa em cassetes de alumínio e o submetemos ao ultrafreezer mecânico de -86°C até solicitação médica do material. Foram avaliadas 4 bolsas de DLI, neste trabalho identificadas como DLI1, DLI2, DLI3 e DLI4. O DLI1 foi coletado em junho/2021; em novembro/2021, os DLI2 e DLI3 e em janeiro/2022, o DLI4. De acordo com a indicação clínica do receptor, os DLI seriam solicitados para infusão com diferentes intervalos após criopreservação e todos tiveram uma primeira infusão à fresco do produto. Os DLI1 e DLI3 pós-criopreservação não foram infundidos por óbito dos receptores e foram descongelados para análise da viabilidade com 13 meses e 8 meses respectivamente. Os intervalos entre criopreservação e infusão de material criopreservado foi de 1 mês para o DLI4, 2 meses para o DLI2. Os resultados do primeiro teste de viabilidade celular, do material fresco, foram de 99% para o DLI1, 98,5% para DLI2 e DLI3, e 99,5% para o DLI4. Após criopreservação e posterior descongelamento, a viabilidade celular foi de 76% (DLI3), 79% (DLI1), 81% (DLI2) e 90% (DLI4).
DiscussãoA infusão de linfócitos do doador (DLI) é uma terapia imunológica que pode ser indicada em recidivas pós transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) e produz um efeito conhecido como GvL (graft-versus-leukemia) ou EvL (enxerto-versus-leucemia), que é benéfico e desejável, mas pode ocorrer também um efeito citotóxico deletério, como a doença do enxerto contra hospedeiro (DECH) ou aplasia medular. Do mesmo doador do TCTH é coletado por aférese o produto DLI. No material é contado, por citometria de fluxo, a quantidade de células CD3 e uma primeira infusão é feita a fresco, se houver um remanescente pode ser criopreservado, em alíquotas, geralmente em uma dose escalonada. Historicamente, a padronização da técnica de criopreservação do DLI se baseou na experiência com criopreservação das células troncos, mas ainda não há um consenso da melhor fórmula. Em nossa análise, apesar do número pequeno de amostras, todas apresentaram viabilidade pós-descongelamento acima de 75%, consideramos adequada essa taxa. Não houve intercorrência associada ao procedimento de criopreservação.
ConclusãoA nova metodologia mostrou ser eficiente e efetiva para o procedimento de criopreservação de linfócitos, mantendo-se dentro de critérios aceitáveis de viabilidade e foi aprovado para utilização em nossos produtos de DLI no Hospital Santa Marcelina.