Objetivo: descrever dois casos de doadores saudáveis de células tronco hematopoiéticas (CTH) que apresentaram falha primária de mobilização e tiveram CTH de sangue periférico coletadas em quantidade satisfatória, após o uso de plerixafor. Métodos: as informações contidas nesse relato foram obtidas através de revisão de prontuário e revisão de literatura. Relatos de casos: Caso 1: Trata-se de doadora do sexo feminino, 65 anos, hipertensa, dislipidêmica e com história de infecção prévia por hepatite B. No D5 da mobilização com G-CSF 900 mcg a doadora apresentava < 10 células CD34/uL em sangue periférico. Recebeu plerixafor 0,24 mg/kg na noite do D5 e no dia seguinte apresentava 18,9 células CD34/uL. Foi submetida a coleta por aférese, resultando em um produto com 2,8 x 106/kg células CD34+. O receptor apresentou pega neutrofílica no D+18 e plaquetária no D+21. Caso 2: Trata-se de doador do sexo masculino, 54 anos, previamente hígido. No D5 também apresentou falha de mobilização, apresentando 1,6 células CD34/uL. Recebeu plerixafor 0,24 mg/kg na noite do D5 e no dia seguinte apresentava 18,8 células CD34/uL em sangue periférico. Foi submetido a coleta por aférese, resultando em um produto com 2,4 x 106/kg células CD34+. O receptor apresentou pega neutrofílica no D+17 e plaquetária no D+19. Discussão: Define-se falha de mobilização a contagem de células CD34+ inferior a 10 células/uL no sangue periférico ou rendimento de coleta inferior a 2 x 106/kg. Muitos fatores estão associados, como idade acima de 60 anos, estágio avançado da doença, contagem de plaquetas menor que 100 mil, maior número de linhas de tratamento quimioterápico e radioterapia anteriores. A indicação atual do plerixafor é restrita a pacientes que apresentaram falha de mobilização ou seu uso preemptivo em pacientes com alto risco para falha. O uso em doadores saudáveis é pouco descrito e restrito a ensaios clínicos. Plerixafor é um bloqueador reversível e específico do receptor de quimiocina das células tronco hematopoiéticas em seus nichos no estroma da medula óssea. A quebra desta ligação permite que as CTH migrem para a corrente sanguínea, onde poderão ser coletadas por aférese. Após essa “mobilização”, as células podem ser congeladas e estocadas até serem transplantadas. Recomenda-se a utilização da medicação de 6 a 11 horas antes do início de cada aférese após 4 dias de tratamento com G-CSF, na dose de 0,24 mg/kg de peso por dia, por via subcutânea. A droga foi estudada em oito doadores familiares saudáveis, que não alcançaram 50% da contagem de células CD34+ pretendida com a primeira coleta. O uso do plerixafor resultou na triplicação do número de células CD34+ coletadas no dia subsequente, com apenas reações adversas leves. Enxertia e incidência de doença do enxerto contra hospedeiro foram semelhantes a doadores mobilizados somente com G-CSF. No cenário de doadores haploidênticos, no qual um alto número de células CD34+ é importante para o sucesso do procedimento, o plerixafor associado ao G-CSF foi utilizado em seis doadores e com obtenção de um número de células CD34+ adequado. Outro ensaio clínico aberto e randomizado, conduzido em 2012, estabeleceu segurança no uso de plerixafor em alta dose para mobilização celular em doadores saudáveis. Conclusão: Apesar da escassez de dados do uso do plerixafor em doadores saudáveis, trata-se de uma ferramenta útil no cenário de falha primária de mobilização, assegurando um número de células CD34+ adequado para enxertia.
Informação da revista
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 300-301 (novembro 2020)
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 300-301 (novembro 2020)
498
Open Access
USO DE PLERIXAFOR EM DOADORES SAUDÁVEIS DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS COM FALHA PRIMÁRIA DE MOBILIZAÇÃO
Visitas
2436
A.B. Godoi, G. Campos, J.S.H. Farias, M.E.B. Abreu, E.C. Munhoz
Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo