
A transfusão de granulócitos (GC) é indicada para pacientes com neutropenia grave e infecção documentada refratária à terapêutica antimicrobiana adequada. Essa terapêutica, apesar de controversa, demonstrou melhores desfechos clínicos quando transfundidas doses superiores a 0,6 × 109/kg. Entretanto, a logística de coleta de granulócitos é complexa, o que torna o fornecimento deste produto um desafio para os bancos de sangue. Um dos obstáculos é o prazo de validade do produto (24h), a coleta por aférese, além da mobilização prévia com fator estimulador de colônia de granulócitos (GCSF) e corticoide. Uma outra opção seria “buffy coat”(BC), processado a partir de sangue total (ST), cuja coleta é mais simples e rápida. Para pacientes adultos, o pool de BC não é a opção ideal, por implicar múltiplas exposições a doadores, além de maior risco de aloimunização e transmissão de infecções. Porém, para pacientes pediátricos pequenos, o granulócito de BC parece ser uma opção viável, por conter a dose mínima efetiva, além de evitar o descarte do excedente de células coletadas por aférese. Devido a isso, nos questionamos se em pacientes pediátricos menores seria factível a transfusão de doses adequadas de granulócitos a partir do BC de doadores de ST mobilizado.
ObjetivosAvaliar a viabilidade de transfusão de granulócitos a partir do buffy coat de um único doador mobilizado, produzido a partir de bolsas top-top.
Material e métodosAnálise observacional retrospectiva de todas as GC por BC de março de 2019 a março de 2022 em um Serviço de Hemoterapia em São Paulo, SP. Os doadores foram mobilizados com GCSF e Dexametasona. As sorologias foram coletadas até 72h antes da doação. Uma amostra do ST era coletada para contagem de leucócitos totais e de granulócitos. Adicionado hidroxietilamida 450/0,7 (HES) ao ST, utilizado 1/8 do volume do ST. Após, a bolsa era acondicionada na caçapa “invertida”, e centrifugada à 3000rpm por 10 minutos, a 20-24°C. Por ser uma bolsa com sistema top-top, foi necessário coloca-la invertida na caçapa, para seguir com a deseritrocitação. O ST foi deseritrocitado de maneira lenta e gradual. A bolsa foi submetida novamente a centrifugação (igual a anterior) para retirada do excesso de plasma. Ao final, uma nova contagem de leucócitos totais, granulócitos e hematócrito. Apenas GC isogrupo foram transfundidos. Ao término do preparo, todas as bolsas foram irradiadas e o volume final foi definido pela equipe médica.
ResultadosTivemos 4 pacientes que receberam transfusão de GC a partir de BC de doador único. O peso médio dos receptores foi de 10,45 kg (6,46 – 13,45 kg). Houve 13 coletas de ST e 11 BC transfundidos. A dose média de granulócitos infundido foi 0,83 × 109/kg (0,59-1,24 × 109/kg).O volume médio do ST coletado foi de 447mL. A leucometria média dos doadores pré doação foi de 34.000/mm3. A contagem média de granulócitos no produto pré processamento foi de 1,2 × 1010. A recuperação média foi de 84%. O volume final do produto variou de 50 a 122mL, a depender do peso do receptor. O valor médio de hematócrito foi de 39,5%.
Discussão: A coleta de ST com doador mobilizado é uma estratégia factível para pacientes pediátricos, menos custosa e com uma logística mais simples que a coleta por aférese. Uma limitação à execução é a necessidade de HES, um produto que está com o abastecimento incerto no Brasil.
ConclusãoÉ possível realizar transfusão de granulócitos a partir do BC de um doador único mobilizado com doses adequadas (≥ 0,6 × 109/kg) para pacientes pediátricos, porém recomendamos limitar esse método para pacientes com até 13,5 kg.