HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO Mieloma Múltiplo Recidivado/Refratário (MMRR) representa um desafio em pacientes expostos às três principais classes terapêuticas: imunomoduladores, inibidores de proteassoma e anticorpos anti-CD38. As terapias anti-BCMA, como ciltacabtagene autoleucel (cilta-cel) e Teclistamab (TEC), são abordagens inovadoras com mecanismos distintos ‒ CAR-T e anticorpo biespecífico, respectivamente ‒ que prometem melhorar os desfechos clínicos.
ObjetivosComparar as terapias anti-BCMA cilta-cel e TEC quanto à eficácia e segurança no tratamento do MMRR.
Material e métodosFoi realizada uma revisão sistemática conforme as diretrizes PRISMA 2020 nas bases PubMed e CENTRAL até agosto/2025. Utilizou-se os descritores ("Relapsed multiple myeloma" OR "refractory multiple myeloma" OR RRMM) AND ("ciltacabtagene autoleucel" OR "teclistamab"), resultando 250 artigos. Foram incluídos ensaios clínicos fases 2 e 3 com desfechos clínicos primários, como taxa de resposta global (ORR), sobrevida livre de progressão (PFS) ou eventos adversos. Foram excluídos estudos fase 1, modelagens farmacocinéticas, análises econômicas isoladas, desfechos laboratoriais e subjetivos sem dados clínicos primários, publicações duplicadas ou parciais de estudos já representados em versões completas e estudos com terapias combinadas envolvendo TEC ou cilta-cel. A revisão foi registrada na PROSPERO (CRD420251119223).
Discussão e conclusãoForam analisados seis estudos, totalizando 493 pacientes com MMRR: 276 incluídos nas análises por intenção de tratamento com cilta-cel e 217 tratados com TEC. A ORR com cilta-cel variou entre 84,6% e 97%, com ≥ Resposta Completa (CR) em até 73,1%. No CARTITUDE-4, cilta-cel reduziu em 74% o risco de progressão ou morte em comparação ao cuidado padrão (Hazard Ratio: 0,26), com PFS estimada em 75,9% aos 12 meses e mediana ainda não alcançada. Para TEC, a ORR variou de 63% a 76,9%, com ≥CR em até 65,4% e duração mediana de PFS de 11,3 meses no estudo MajesTEC-1. Cilta-cel apresentou Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC) em 76,1% dos pacientes (grau ≥3 em até 1,1%), neurotoxicidade em até 20,5% (grau ≥3 em 2,8%) e neutropenia grau ≥3 em 89,9%. TEC teve SLC em 72,1% (grau ≥3 em 0,6%), neurotoxicidade em até 14,5% (grau ≥3 em 0,6%) e neutropenia grau ≥3 em 64,2% dos pacientes. A descontinuação por eventos adversos foi rara. Nesse contexto, ambas as terapias promoveram respostas clínicas relevantes em pacientes com MMRR. Cilta-cel promoveu respostas mais profundas e sustentadas, sugerindo maior capacidade de erradicação tumoral, enquanto TEC apresentou vantagem como terapia off-the-shelf, com início mais rápido e aplicabilidade ampliada em ambientes com menor infraestrutura. Dado o rápido debulking tumoral alcançado com TEC, há a possibilidade de seu uso como terapia ponte antes da infusão de CAR-T, sobretudo em cenários de progressão da doença enquanto se aguarda a fabricação de células CAR-T autólogas. Em termos de segurança, cilta-cel associa-se a maior frequência de SLC e neurotoxicidade, eventos esperados em CAR-T. Ambos os agentes provocam citopenias relevantes, exigindo monitoramento hematológico intensivo. A escolha terapêutica deve equilibrar potência antitumoral, perfil de toxicidade e viabilidade logística. Portanto, as evidências reforçam o papel das terapias anti-BCMA no manejo do MMRR, oferecendo novas perspectivas para um grupo de pacientes com poucas opções. Cilta-cel e TEC ampliam o arsenal terapêutico com benefícios clínicos comprovados, marcando uma nova era no tratamento da doença.




