HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosMieloma Múltiplo (MM) e outras neoplasias malignas de plasmócitos são neoplasias hematológicos caracterizados pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea. Apesar de serem mais comuns em indivíduos idosos, a faixa etária de 35 a 75 anos concentra grande parte dos óbitos. Analisar a tendência temporal da mortalidade por essas neoplasias é essencial para compreender sobretudo a dinâmica de incidência e óbitos tanto no âmbito nacional quanto mundial.
ObjetivosAnalisar a tendência temporal da mortalidade por mieloma múltiplo e neoplasias malignas de plasmócitos no Brasil de 2000 a 2023, segundo sexo e raça.
Material e métodosTrata-se de um estudo ecológico de série temporal dos óbitos por mieloma múltiplo e neoplasias malignas de plasmócitos no Brasil entre 2000 e 2023. Os dados de mortalidade foram obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SIM/DATASUS), estratificados por grupos etários (30-39, 40-49, 50-59, 60-69 e ≥70 anos), sexo (masculino e feminino) e raça/cor da pele (branco, preto e pardo). As populações dos anos censitários (2000 e 2010) foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e as estimativas para os anos intercensitários foram calculadas pelo método geométrico. Foram calculadas as taxas de mortalidade, as quais foram padronizadas pelo método direto, utilizando a população padrão do Brasil estimada para 2010 como referência. A análise de tendência temporal foi realizada utilizando modelos de regressão Joinpoint, com um nível de significância de 5%.
ResultadosEntre 2000 e 2023, foram registrados 57.053 óbitos por mieloma múltiplo e neoplasias malignas de plasmócitos em adultos no Brasil, sendo 51,2% entre indivíduos do sexo masculino e 48,8% entre o sexo feminino. Em ambos os sexos, a maior proporção de óbitos ocorreu entre pessoas brancas (62,4% entre homens e 64,5% entre mulheres), seguidas por pardas (29,1% e 26,8%, respectivamente) e pretas (8,4% e 8,7%). Entre os homens, observou-se tendência crescente de 1,3% ao ano entre brancos (IC95%: 0,9 a 5,9; p = 0,008) e de 4,7% ao ano entre pardos (IC95%: 3,8 a 21,3; p = 0,005) até 2018, seguida de estabilização. Homens pretos apresentaram tendência crescente durante todo o período analisado (APC=2,8%; IC95%: 2,2 a 3,5; p < 0,001). Entre as mulheres, a mortalidade também aumentou significativamente entre brancas (APC=0,7%; IC95%: 0,1 a 8,4; p = 0,043) e pardas (APC=3,8%; IC95%: 3,2 a 5,4; p < 0,001) até 2018, com posterior estabilização. Mulheres pretas, apresentaram tendência crescente ao longo de todo o período analisado (APC=2,1%; IC95%: 1,4 a 3,0; p < 0,001).
Discussão e conclusãoA estabilização recente das taxas de mortalidade por mieloma múltiplo entre brancos e pardos no Brasil pode indicar avanços no acesso ao diagnóstico e tratamento. No entanto, o crescimento contínuo entre pessoas pretas evidencia que essa melhora não é homogênea, reforçando desigualdades no sistema de saúde. O contraste entre o aumento mais acentuado da mortalidade na China (AAPC=4,07%) e a elevação mais moderada no Brasil (AAPC=1,37%) pode refletir diferentes estágios de envelhecimento populacional, transição epidemiológica e desigualdades no acesso a terapias. Projeções indicam aumento contínuo da carga da doença até 2046 em todos os países do BRICS, exceto a África do Sul. Isso sinaliza a necessidade urgente de o Brasil investir em estratégias de rastreamento precoce, ampliação da cobertura terapêutica e políticas públicas focadas na equidade em saúde.




