
A leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa rara associada a uma anormalidade citogenética específica, conhecida como cromossomo Philadelphia. O advento dos inibidores da tirosina quinase (ITQ) revolucionou o tratamento destes pacientes no alcançe de remissões citogenéticas e moleculares duráveis e melhora substancialmente da sobrevida na maioria dos pacientes. O nilotinibe é um ITQ de segunda geração compondo a segunda linha de tratamento com boa eficácia, mas não isento de toxicidade.
ObjetivoRelatar a persistência do uso de nilotinibe diante das manifestações sistêmicas relacionadas ao seu uso em um paciente com LMC.
MetodologiaTrata-se de um relato de caso, descritivo e qualitativo, realizado através de consulta em prontuário de um paciente no ambulatório de um serviço em hematologia de João Pessoa (PB).
Relato de casoHomem de 51 anos, assintomático, encaminhado ao ambulatório de hematologia para avaliação de leucocitose persistente. Em janeiro de 2016, os resultados confirmaram o diagnóstico de LMC, fase crônica, iniciando uso de imatinibe 400mg/dia. Após 3 meses, houve resposta subótima, aferida por BCR/ABL em sangue periférico, e decidiu-se a troca por nilotinibe 400 mg 2x dia. Em 30 dias, houve o aparecimento de lesões eritematosas difusas, em placas e pruriginosas, principalmente em troncos e membros superiores, que regrediram após uso de prednisona e retornavam após suspensão dela. Em dezembro de 2017, já em remissão molecular (RM) maior, o paciente apresentou febre, leucocitose, elevação de marcadores inflamatórios e recrudescência das lesões cutâneas. Um ecocardiograma transtorácico sugeriu vegetação em valva mitral com hemoculturas negativas. Após antibioticoterapia por 6 semanas e reintrodução do corticoide, já assintomático, o mesmo exame apontou inalteração da lesão valvar. Em sequência, uma PET-TC afastou atividade inflamatória ou infecciosa na valva, e foi decidido manter o ITQ em associação a prednisona, em dias alternados, por imaginar se tratar de síndrome inflamatória sistêmica relacionada ao Imatinibe. O paciente manteve-se assintomático, seguindo em acompanhamento clínico e laboratorial a cada 3 meses em RM 4,5.
DiscussãoOs ITQs são drogas promissoras no tratamento da LMC com a maioria dos pacientes atingindo RM maior em uso dessas drogas. A maioria dos efeitos adversos são manejáveis. No caso descrito, atribuiu-se o quadro sistêmico de febre, leucocitose e elevação de provas de atividade inflamatória ao ITQ, uma vez que não houve mudança na imagem de vegetação cardíaca após uso de antibioticoterapia, vindo o paciente melhorar apenas com corticóide. Visto a excelente resposta ao Nilotinibe foi optado por manter a droga com esquema de corticoterapia em baixas doses, estando o paciente em RM 4,5 e assintomático até a confecção deste relato.
ConclusãoDiante da toxicidade encontrada pelo uso do nilotinibe, a continuidade da droga com associação ao corticoide oral proporcionou melhora dos efeitos de atividade inflamatória sistêmica apresentada pelo paciente durante a terapêutica. Logo, o benefício do ITQ superou os riscos da sua retirada no caso em questão e deve ser avaliado individualmente.