
A hemofilia é uma coagulopatia hereditária ligada ao cromossomo X, caracterizada pela deficiência ou anormalidade da atividade coagulante do fator VIII ou IX. Além dos episódios hemorrágicos que podem ocorrer espontaneamente ou após trauma, outra preocupação para pessoas com hemofilia (PCH) é o desenvolvimento de inibidores, anticorpos policlonais da classe IgG, contra os fatores infundidos (aloanticorpos), levando a redução da resposta de PCH à terapêutica, intensificando os episódios hemorrágicos. A imunotolerância (IT) é o tratamento capaz de erradicar inibidores, sendo eficaz em até 80% dos casos. Este cenário remete à necessidade de intervenções e cuidado farmacêutico como uma estratégia para a promoção da adesão ao protocolo de IT, busca ativa dos pacientes eletivos à este protocolo e auxiliar o paciente na obtenção de melhores resultados. Dessa forma, o trabalho propõe um protocolo farmacêutico de monitoramento de inibidor em PCH (PMI-PCH).
MétodosTrata-se da elaboração de um produto tendo como base um relato de experiência da rotina de serviço farmacêutico na farmácia em ambulatório de hematologia e no conhecimento atual presente na literatura.
Resultados e discussãoAs particularidades das demandas de PCH culminaram na elaboração de formulários para conhecimento das condições biopsicossociais e clínicas desses pacientes. O Ministério da Saúde recomenda o monitoramento de forma completa e periódica, pelo menos uma vez por ano, sendo maior a frequência na infância e dependendo das complicações. Estes controles devem incluir: avaliação clínica, níveis pressóricos e exames laboratoriais que, dependendo da coagulopatia, podem variar. Entretanto, exames como pesquisa de inibidor, hemograma completo, função hepática (AST, ALT, g-GT, fosfatase alcalina), função renal (creatinina) e perfil sorológico (minimamente HBV, HCV, HIV1-2, HTLVI-II) devem ser realizados anualmente e seus resultados atualizados no Hemovida WebCoagulopatias. Considerando a importância do monitoramento clínico e laboratorial, PMI-PCH foi elaborado tendo como referência os protocolos e manuais desenvolvidos pela coordenação geral de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde, a fim de atender as demandas das PCH e recomendações deste ministério. Este protocolo farmacêutico contribui para a sistematização e qualificação das atividades clínicas deste profissional no âmbito dos serviços de hematologia e hemoterapia, corroborando com o preconizado nas legislações farmacêuticas.
ConclusãoO farmacêutico vem ampliando seus espaços de atuação nos serviços de saúde, sendo um deles os serviços clínicos, desenvolvido com foco no paciente e suas necessidades, contribuindo na sua recuperação, garantindo acolhimento, conforto, bem-estar e segurança. Além de promover a adesão ao tratamento e contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Espera-se também que este protocolo possa contribuir com a melhoria das atividades clínicas farmacêuticas nos demais hemocentros do país.