
Relatar o caso de paciente com mieloma múltiplo (MM) que modificou o padrão IgG Kappa para Kappa isolado e sua evolução clínica.
Material e métodosAnálise de prontuários do consultório médico associada à revisão bibliográfica.
ResultadosPaciente, E.C.P., masculino, 75, previamente hipertenso, iniciou um quadro de dor lombar contínua em 2016. Após o início da investigação, em 03/2017 recebeu diagnóstico de MM IgG Kappa. Ao diagnóstico apresentava medula óssea (MO) infiltrada com 38% de plasmócitos atípicos, IgG 2367, hipogamaglobulinemia das demais Imunoglobulinas (Ig), LDH 457, Beta2-Microglobulina 6,3. Recebeu o estadiamento de R-ISS de alto risco, recebendo na indução esquema CyBORD (Ciclofosfamida-Bortezomibe-Dexametasona) por 4 ciclos, sendo consolidado com Transplante de Medula Óssea Autólogo (TMO-AUTO) em 09/2017. No estadiamento após o TMO-AUTO, o paciente apresentou uma Resposta Parcial Muito Boa (RPMB), atingindo uma resposta completa ao final de 4 meses no pós-TMO. Após 15 meses, em 12/2019, o paciente evoluiu novamente com dor lombar. A investigação ortopédica detectou uma fratura patológica em vértebra torácica (T6). Após reestudo medular, foi detectado em MO a presença de 27% de plasmócitos atípicos, acompanhado de uma imunofixação padrão IgG Kappa, com IgG de 1700 (VR:1600), cadeias leves dentro do valor normal, com R K/L 1,8. Nos exames laboratoriais apresentava clearance de creatinina de 45ml/min, hemoglobina de 9,2 e cálcio de 4,7. O estudo do esqueleto mostrou lesão expansiva em T6 e lesões líticas em crânio e quadril. Na primeira recidiva o paciente mantinha o R-ISS de alto risco. Iniciou em 02/2019 esquema de segunda linha com Karfilzomibe e Dexametasona (KD). Ao fim dos 4 primeiros ciclos, o paciente entrou em remissão completa. Ficou então em manutenção com KD até 04/2021. Nos exames de acompanhamento foi notada uma elevação contínua da Cadeia leve Kappa isolada. Em 05/2021 o paciente apresentava a dosagem de IgG de 630 e a cadeia leve Kappa de 651 com R 97,1, definindo a segunda recaída com mudança do padrão inicial da proteína monoclonal. No momento o paciente encontra-se na fase 3 do protocolo Daratumumabe-Lenalidomida-Dexametasona (DRd), com excelente aceitação do esquema, sem efeitos colaterais.
DiscussãoO MM e uma neoplasia caracterizada por acúmulo de plasmocitos clonais na MO, presença de proteína monoclonal no soro e/ou na urina e, em pacientes com sinais ou sintomas, dano tecidual relacionado. Clinicamente podem apresentar hipercalcemia, anemia, disfunção renal e doença óssea. No caso do paciente em questão, os exames laboratoriais e de imagem demonstram essas alterações no momento do diagnóstico inicial e da recidiva, com evidência de alteração no padrão da cadeia, o que sugere mau prognóstico.
ConclusãoA mudança de expressão das Ig no contexto das recidivas dos pacientes com MM indica doença agressiva, devendo ser tratada com esquema de drogas que o paciente não tenha recebido previamente. Com as novas terapias utilizadas, o paciente tem chance de obter uma boa resposta.