Endêmica da América Latina, a transmissão transfusional da Doença de Chagas (DC) através do Trypanosoma cruzi tornou-se o principal mecanismo de importância epidemiológica quanto à disseminação da doença em áreas urbanas em virtude dos movimentos migratórios. O objetivo desse estudo foi determinar a prevalência de doações com sorologia reagente para DC, bem como analisar o perfil epidemiológico dos doadores de sangue.

Foi realizado um estudo descritivo retrospectivo de 267.031 doações de sangue durante o período de janeiro de 2005 a dezembro de 2022, coletados através de planilhas do sistema informatizado utilizado no serviço. Foram consideradas positivas as amostras que apresentaram resultado reagente no teste de triagem, ou ainda resultado reagente no teste confirmatório e/ou no teste de segunda amostra. Os dados em relação ao local de residência e naturalidade foram georreferenciados por meio do software QGIS, a fim de identificar as mesorregiões do estado do Rio Grande do Sul com alta prevalência de resultados reagentes para infecção por T. cruzi.

A prevalência de doações reagentes para a DC foi de 0,15% e variou de 0,4% a 0,2%, sendo que, dos 408 doadores reagentes, apenas 25,5% compareceram para a recoleta. As amostras reagentes foram associadas a doadores do sexo masculino (56,6%), com idade média de 42 anos, sendo que 64,3% possui até ensino fundamental completo. Além disso, ainda que a maioria resida na região metropolitana (94,1%), quando analisada a naturalidade, as demais regiões do estado juntas, representam 66% das doações com sorologia reagente para a DC.

os resultados demonstraram que embora o sexo masculino teve maior contribuição (56,6%), houve diferença significativa entre os sexos (p=0,047), demonstrando um aumento da prevalência do sexo feminino (43,4%) com a DC se comparado ao grupo não reagente (38,5%). Embora a doença acometa ambos os sexos indistintamente, o predomínio do sexo masculino pode ser justificado devido à frequência de doação, uma vez que homens podem realizar até quatro doações por ano, enquanto as mulheres doam no máximo três vezes por ano. Os dados revelam uma correlação positiva entre o aumento da idade e o percentual de doadores reagentes para a DC (p<0,001), sendo a faixa mais prevalente entre os doadores acima de 50 anos (33,1%). O perfil de doadores reagentes quanto à escolaridade evidenciou um predomínio de indivíduos com baixa escolaridade, sugerindo que a infecção está diretamente relacionada com o contexto socioeconômico ao qual os indivíduos estão inseridos. Ainda que a maioria dos doadores reagentes para a DC resida na mesorregião Metropolitana de Porto Alegre, a mesorregião Sudoeste foi a mais prevalente entre os doadores reagentes (0,8%).

Apesar da tendência de regressão dos casos da DC em doadores de sangue ao longo do período estudado, é fundamental a manutenção da triagem de doadores para fins de controle epidemiológico e segurança transfusional.