
Relatar a experiência de um serviço de hemoterapia com sangrias terapêuticas em pacientes apresentando policitemia secundária ao uso de testosterona e discutir, a partir desses dados, o perfil desses pacientes.
Material e métodosAnalisamos as sangrias realizadas no serviço no primeiro semestre de 2022 para identificação dos pacientes encaminhados devido ao uso de testosterona. Realizada a coleta de dados desses pacientes e revisão da literatura.
ResultadosAnalisamos um total de 503 flebotomias realizadas no período. Dessas, 23 foram secundárias a reposição de testosterona, correspondendo a 4,5% do total. Esses 23 procedimentos foram realizados por 15 pacientes diferentes, todos do sexo masculino (100%). Com relação a faixa etária, 5 pacientes tinham entre 20 e 40 anos (33%), 7 deles entre 41-60 anos (46%) e 3 mais que 60 anos (20%). A hemoglobina média no momento do primeiro procedimento foi de 17.5g/dl (16-19g/dl). Observamos, ainda, uma variedade de drogas utilizadas na reposição hormonal de testosterona e tendência de início de sangria de 6 meses a 1 ano após início da reposição ou aumento de dose de reposição de testosterona. Dentre as causas para reposição hormonal, todos os pacientes abaixo de 40 anos realizavam reposição para fins estéticos.
DiscussãoA reposição de testosterona em pacientes com hipogonadismo é um método terapêutico eficaz, mas com efeitos adversos conhecidos como policitemia e eventos cardiovasculares. Esses efeitos são dose dependentes e variam de acordo com a faixa etária dos pacientes. Observamos no nosso banco um aumento do número de sangrias em pacientes jovens , para fins estéticos, sem evidência laboratorial ou clínica de hipogonadismo. Além disso, uma ampla faixa nos valores de hemoglobina na admissão, podendo indicar diferentes condutas e tolerância da equipe médica frente a aumento nos valores basais de hemoglobina/ hematócrito.
ConclusãoA prescrição de testosterona tem aumentado significativamente nos últimos anos e com isso, os procedimentos de flebotomia associados a policitemia secundária. Conhecer o perfil desses pacientes que evoluem com policitemia nos permite melhor entendimento dessa complicação e melhor programação de conduta hemoterápica com relação as flebotomias. Além disso, desperta uma discussão importante com relação a real indicação e benefícios da reposição de testosterona, principalmente em pacientes jovens.