
Este estudo tem como objetivo identificar o perfil dos pacientes atendidos no protocolo de transfusão maciça e quantificar cada hemocomponente transfudido nesses pacientes em um hospital terciário com referência para trauma no estado do Ceará.
Material e métodoTrata-se de um estudo descritivo, documental, retrospectivo e com abordagem quantitativa, realizado em um hospital de referência para o trauma no estado do Ceará. Foram analisadas as transfusões realizadas nos pacientes atendidos na emergência, no período de janeiro a dezembro de 2021. As variáveis estudadas foram: sexo, idade, mecanismo do trauma e hemocomponentes transfundidos em todos os pacientes politraumatizados. Os dados foram coletados pelo sistema de coleta de dados para o protocolo de transfusão maciça (SisPTM), e nas fichas de acompanhamento dos pacientes inseridos no protocolo implantado no hospital. As informações foram tabuladas e tratadas em planilha do programa Microsoft Office Excel 2010. Foram obedecidos todos os aspectos éticos e legais vigentes.
ResultadosNo período em estudo, foram realizados 310 atendimentos aos pacientes que apresentavam critérios, que definiam o início do atendimento para o protocolo de transfusão maciça implantado no hospital. Para dar início as transfusões conforme o protocolo é necessário que o paciente apresente escore ABC ≥ 2. Nesse estudo identificamos que apenas 2 pacientes foram atendidos com ABC=0, 40 pacientes apresentaram somente 1 escore, e 148 pacientes apresentavam dois escores, 105 três escores e 14 quatro escores. Do total de atendimentos, 127 foram pacientes politraumatizados e 183 com outros diagnósticos. Foram 127 pacientes atendidos com politrauma, sendo 103 (81%) do sexo masculino e 24 (19%) do sexo feminino. Quanto à faixa etária, 13 (10%) foram jovens de 14 até 19 anos, 96 (75%) adultos de 20 a 59 anos e 18 (15%) idosos acima de 60 anos. Ao analisar os hemocomponentes transfundidos foram contabilizados: 324 concentrados de hemácias, 330 unidades de plasma, 13 concentrados de plaquetas e 470 unidades de crioprecipitado.
DiscussãoOs dados mostram que 86,5% dos pacientes inseridos no protocolo apresentavam escore ABC ≥ 2, sendo o sexo masculino o mais prevalente. Quanto ao mecanismo do trauma, a maior incidência se relacionou aos acidentes envolvendo motocicletas. Os dados relativos à faixa etária mostram um predomínio de pacientes adultos (20 a 59 anos) em relação às demais idades. Dentre os hemocomponentes transfundidos observa-se que o crioprecipitado é o componente com o maior número de bolsas utilizadas, seguido do plasma e hemácias, em quantidade semelhante, o que está relacionado ao uso da relação 1:1 na transfusão de plasma e hemácias nos pacientes inseridos no protocolo. A dose de crioprecipitado utilizada foi ajustada ao nível de fibrinogênio apresentado pelo paciente na entrada no hospital e durante o atendimento do quadro de hemorragia.
ConclusõesOs pacientes vítimas de trauma atendidos nesse hospital são de alta complexidade e com risco de choque hemorrágico. A implantação de um protocolo para reconhecer pacientes de risco para coagulopatia associada ao trauma e guiar seu atendimento, baseado no escore ABC e avalição laboratorial sistemática, ajudam na conduta, definição da indicação de transfusões, trazendo maior segurança para o paciente.