HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA administração de antitireoidianos é uma opção de tratamento para o hipertireoidismo, com taxa de cura de até 50%. No entanto, 0,2‒0,5% dos pacientes podem desenvolver agranulocitose, uma complicação rara e grave. Em muitos casos, esta complicação é evidenciada na vigência de infecção, sepse e até neutropenia febril, ratificando a gravidade. Nestes casos, o tratamento do hipertireoidismo pode ser desafiador. A plasmaférese pode ser indicada em situações cujo objetivo é remover ou reduzir os níveis de substâncias patológicas do plasma prevenindo danos adicionais ou a reversão de um processo deletério.
Descrição do casoPaciente do sexo feminino, 34 anos, com Doença de Graves desde outubro de 2023, em uso de Tapazol 50 mg/dia e Metoprolol 50 mg/dia, foi admitida para investigação e tratamento de odinofagia com disfagia secundária e febre persistente. Apresentava queixas da doença: dispneia, astenia, rouquidão, insônia, tremores, humor irritado, queda capilar e unhas quebradiças. Ao exame físico, com as seguintes alterações: regular estado geral, hipocorada, febril, com lesão ulcerada em palato, murmúrio vesicular reduzido bilateralmente em base pulmonar e edema em tornozelos. Os exames laboratoriais iniciais revelaram leucopenia grave (leucócitos <500) sugerindo mielotoxicidade por Metimazol, levando à suspensão da droga. Foi iniciado tratamento com piperacilina-Tazobactam e Teicoplanina, substituição do Metoprolol por propranolol e suporte nutricional com sonda nasoenteral. Neste momento a paciente foi classificada com iminente tempestade tireoidiana (25 pontos no escore de Burch-Wartofsky). Evoluiu com má perfusão periférica, taquicardia, taquipneia e hipotensão, sendo estabilizada na Unidade de Terapia Intensiva do choque séptico e neutropenia febril. Com contraindicação formal ao uso de Tapazol e do Iodo (risco de efeito Jod-Basedow), a plasmaférese se tornou a principal escolha para controle do quadro, sendo realizadas cinco sessões utilizando solução de reposição com albumina. Após terapia, paciente teve evolução favorável clínica e redução de T4 livre de 8,37 para 4,34, retorno gradual da alimentação oral e do sono, bem como ausência de tremores. Isso permitiu a realização da tireoidectomia. A paciente recebeu alta hospitalar assintomática, no 5º dia pós-operatório, em uso de Puran.
ConclusãoA plasmaférese está indicada para tratamento de tireotoxicose, classificada como categoria 3 (quando o tratamento com a plasmaférese pode ser ineficaz ou prejudicial, devendo ser individualizada a indicação). Este caso evidencia uma situação clínica crítica em que a realização da plasmaférese permitiu a remoção dos hormônios tireoidianos, autoanticorpos e mediadores inflamatórios circulantes, gerando rápida resposta clínica e laboratorial, criando uma janela de oportunidade para a realização de terapia definitiva. Este caso destaca a importância da abordagem multidisciplinar e exemplifica como a plasmaférese pode servir como ponte para uma terapêutica eficaz e definitiva, sendo uma intervenção hematológica de resgate nesta endocrinopatia grave.




