
Em 2020, presenciamos o surto mundial da COVID-19, doença infecciosa provocada pelo coronavírus (SARS-Cov-2). As apresentações hematológicas e bioquímicas são importantes para a abordagem clínica e tem impacto sobre o esquema terapêutico. Os achados disponíveis na literatura estabelecem claramente a participação do laboratório de hematologia como importante parceiro na triagem e manejo dos pacientes afetados. Neste contexto, este estudo teve como objetivo descrever os perfis hematológico e bioquímico dos pacientes portadores das formas moderadas e graves da infecção, admitidos em um hospital de referência. Avaliamos dados de exames de 235 pacientes, do momento da admissão no complexo hospitalar terciário (aprovação CEP-CAEE sob n° 36812820.3.0000.0068) de março a junho/2020. O diagnóstico do vírus SARS-Cov-2 foi feito através do exame RT-PCR, de acordo com os critérios da OMS. Parâmetros hematológicos foram obtidos através dos hemogramas realizados na rotina laboratorial, por analisadores automatizados, microscopia automatizada e convencional, quando necessárias. Foram avaliados os Dímero-D, TP, TTPA, igualmente obtidos da rotina laboratorial automatizada. A dosagem de Proteína C reativa foi realizada utilizando o método automatizado Imunoturbidimétrico. As informações foram obtidas pelo Sistema de Gestão e Informação Hospitalar. A interpretação dos resultados foi baseada nos intervalos de referência utilizados pelo laboratório. Foi utilizada estatística descritiva para calcular frequência e porcentagem e os dados apresentados em tabelas e gráficos. Técnicas estatísticas utilizadas: Análise Descritiva Unidimensional; Análise Descritiva Multidimensional; Testes de Hipóteses Paramétricas; Associação e Dependência de Dados Qualitativos; Análise de Dados Categorizados. Encontramos a distribuição por sexo: 138 homens (58,72%) e 97 mulheres (41,28%). A faixa etária teve variação de 6 meses a 93 anos com média de 55,8 anos. Os principais achados foram concordantes com a literatura: linfocitopenia em 198 (84,2%), seguido por neutrofilia em 141 (60%), plaquetopenia em 60 (25,5%) e leucocitose em 58 (24,6%). O Dímero-D mostrou-se elevado em 208 pacientes (88,5%). O número absoluto de neutrófilos e de linfócitos, além de valores para Dímero-D mostraram maior relação com a idade do paciente no momento da admissão e o desfecho do caso. Em relação ao PCR, encontramos apenas 6 pacientes dentro da faixa normal (<5 mg/L). Analisando os valores aumentados, verificamos que pacientes com valores até 50 mg/L apresentaram taxa de alta de 76%, enquanto pacientes que apresentaram taxas acima de 50 mg/L, mostraram que a taxa de altas diminui para 61%. Considerando a variável Dímero-D, estima-se que a chance de óbito quando este é maior que 2 × vezes o normal, é 3,1 vezes a chance de óbito quando Dímero-D é até 2 × vezes o normal; interpretação semelhante pode ser feita para as variáveis idade, leucócitos totais, linfócitos, PCR e segmentados. Os valores-p dos testes qui-quadrado de Pearson confirmam evidência de associação entre o desfecho (óbito ou alta) com as variáveis idade, Dímero-D e de neutrófilos. Na faixa de idade superior a 59 anos, Dímero-D acima de 2 vezes o normal e baixo percentual de linfócitos aumentam consideravelmente a chance de óbito. Embora os dados descritos devam ser validados com estudos adicionais, foram evidenciadas características do perfil hematológico de pacientes com COVID-19, úteis à pratica laboratorial e à abordagem clínica.