
A infecção pelo SARS-COV-2, responsável pela COVID-19, se disseminou rapidamente. No final de 2019 a epidemia na China e, em março de 2020, a pandemia mundial. Apresenta espectro clínico variável, e em especial acomete o trato respiratório. Os infectados podem ser assintomáticos ou até evoluir com insuficiência respiratória aguda, disfunção de múltiplos órgãos e óbito. Há necessidade de internação em 3%‒20% e, destes, 10%‒30% cuidados intensivos. Desta forma, há uma preocupação com a saturação dos serviços de saúde. A infecção grave parece estar associada a um desequilíbrio imune, desta forma, a melhor identificação do perfil imune é fundamental para definição prognóstica e terapêutica.
Materiais e MétodosAvaliação de adultos em UTI com COVID-19 grave, realizada de maio de 2020 a maio de 2021. Foram coletadas amostras de sangue total nas primeiras 24 horas de admissão (D0) na UTI e após, a cada 4 dias por no máximo 20 dias. O grupo controle incluiu doadores de sangue voluntários. Avaliamos 17 citocinas, dados clínicos e laboratoriais. O desfecho primário foi sobrevida livre de Ventilação Mecânica (VM). Este projeto foi aprovado no Comitê de ética em pesquisa.
ResultadosForam incluidos 62 pacientes com idade mediana de 58,7 anos e alta prevalência de comorbidades. Observamos linfopenia associada a aumento na relação neutrófilo-linfócito (NLR=9.8), níveis elevados de D-Dímero, DHL e PCR. A mortalidade foi de 8%, sendo necessário VM com uma mediana de 4 dias após admissão UTI em 55%. A análise das citocinas no D0 em comparação com o grupo controle evidenciou aumento nos níveis de sCD137, IL-10, Granzima-B, sFAS, IL-6, CCL-4, TNFα e perforina. Através da curva ROC foi possível avaliar o papel preditivo para VM nos níveis de IL-6, TNFα, sCD137, sFAS, Perforina e Granzima-B.
DiscussãoO desequilíbrio imune e o papel das citocinas vem sendo avaliado como fator causal da forma grave do COVID-19. A tempestade de citocinas é potencialmente fatal, uma doença imune em que há liberação descontrolada destas células ativadas que desencadeia infiltrados celulares e liberação de mediadores químicos. É responsável pela febre, fadiga e contribui também com extravasamento vascular, CIVD, disfunção de múltiplos órgãos, choque e óbito. Em nosso estudo houve o aumento das citocinas IL-6, CCL4, TNFα, Granzima-B e perforina que são marcadores pró inflamatórios, a IL-10 anti-inflamatória e ainda, o sFAS e sCD137 responsáveis pela redução da resposta celular T, por conseguinte, anti inflamatórios. Desta forma, representando a hiperativação desequilibrada do sistema imune associada ao aumento de marcadores inflamatórios como D-Dímero e PCR. O aumento da NRL representa a gravidade da população, já que estudos prévios demonstraram como corte, acima de 3,63. O mecanismo de bloqueio imune através da ativação de anti inflamatórios e apoptose de células auto reativas pode contribuir com o aumento de infecções secundárias tardias. O aumento das citocinas foi relacionado ao desfecho desfavorável em diversos estudos, especialmente na manifestação grave, sendo potenciais marcadores prognósticos.
ConclusãoNosso estudo ratifica a importância das citocinas e o desequilíbrio imune na forma grave do COVID-19. Além disso, evidenciamos alguns potenciais marcadores preditivos de desfecho desfavorável como TNFα, Perforina, Granzima-B, IL-6, sCD137 e sFAS. E ainda, estes podem ser estudados como potenciais alvos terapêuticos.