
Avaliar o perfil transfusional com fenotipagem dos pacientes portadores de anemia falciforme atendidos pelo Grupo GSH em nível nacional no período de janeiro/2023 à junho/2024.
Material e métodosAnálise retrospectiva realizada através do levantamento de dados obtidos pelo sistema informatizado RealBlood no período de janeiro de 2023 a junho de 2024, registrado pelas agências transfusionais do Grupo GSH no Brasil. Os dados foram analisados em planilha do programa Microsoft Excel, mensurando os resultados de acordo com idade, sexo e tipo de hemocomponente transfundido.
ResultadosNo período analisado foram realizadas 4361 transfusões em pacientes portadores de anemia falciforme. Destas 2334 (53,6%) foram no sexo feminino e 2027 (46,4%) foram no sexo masculino. Em relação à idade foram encontrados os seguintes dados: 0-10 anos (10,8%), 11-20 anos (17,2%), 21-30 anos (27,8%), 31-40 anos (21,5%), 41-50 anos (12,9%), 51-60 anos (4,2%), 61-70 anos (2,9%) e > 70 anos (2,4%). A prevalência encontrada dos hemocomponentes transfundidos foi: 4020 (92,1%) concentrados de hemácias; 262 (6%) concentrados de plaquetas; 50 (1,1%) plasmas frescos congelados e 29 (0,6%) crioprecipitados. Dentre os hemocomponentes plaquetários tivemos 207 (79%) transfusões filtradas e irradiadas. Dentre os eritrócitos transfundidos, 72 (1,8%) foram concentrados de hemácias; 4 (0,1%) concentrados de hemácias irradiadas; 2459 (68,6%) concentrados de hemácias deleucotizadas; 1072 (26,6%) concentrados de hemácias deleucotizadas e irradiadas; 91 (2,2%) concentrados de hemácias deleucotizadas e lavadas; e 22 (0,5%) concentrados de hemácias deleucotizadas irradiadas e lavadas. Em relação à fenotipagem dos eritrócitos transfundidos, em 236 (5,8%) não foi realizada fenotipagem no paciente; em 16 (0,4%) era conhecida a fenotipagem de 1 ou 2 antígenos, e esta foi respeitada em 12 (75%) destas transfusões; em 1143 (28,4%) foi realizada fenotipagem para Rh e Kell, sendo respeitada em 1061 (92,8%) destas transfusões; e em 2625 (65,2%) o paciente possuía fenotipagem estendida, e destas, em 1474 (56,1%) foi respeitada somente Rh e Kell, em 1132 (43,1%) foi respeitado Rh, Kell e outros sistemas, e em 19 (0,7%) não foi respeitada a fenotipagem para nenhum sistema.
DiscussãoNo Brasil a anemia falciforme é uma das doenças hereditárias monogênicas mais comuns. Não há um protocolo transfusional único ou obrigatório para atender estes pacientes, porém, é recomendada pela Portaria n°05 de 2017 a utilização de filtros para deleucotização. Também é sugerido pelo Manual da Sociedade Americana de Hematologia de 2020 a realização do perfil de antígenos de hemácias estendido em vez de apenas tipagem ABO/Rh para todos os pacientes com anemia falciforme na primeira oportunidade. Há desafios para garantir o melhor suporte transfusional, como questões logísticas de transporte, limitações de fenotipagem, indisponibilidade de soro, alto custo de reagentes e banco de doadores.
ConclusãoPacientes com diagnóstico de anemia falciforme se tornam pacientes politransfundidos no decorrer da sua vida em virtude do tratamento. Enfatizamos a importância de fenotiparmos o paciente previamente à transfusão com o sistema Rh e Kell e selecionar o hemocomponente com fenótipo adequado, para assim minimizar reações transfusionais onde o paciente pode ser sensibilizado.