
O procedimento de plasmaférese tem como objetivo remover do sangue substâncias patológicas. A primeira descrição de seu uso terapêutico ocorreu em 1952 em um paciente diagnosticado com Macroglobulinemia de Waldestrom. Desde então, a plasmaférese tem sido empregada em diversas doenças, dentre essas, doenças neurológicas de etiologia imune. De acordo com o guideline da Sociedade Americana de Aférese (ASF), a plasmaférese é considerada categoria I (recomendação em primeira linha de tratamento) em várias doenças neurológicas como por exemplo síndrome de Guillain Barré, polirradiculopatia desmielinizante crônica (PIDC) e miastenia gravis.
ObjetivoO objetivo deste estudo é caracterizar o perfil epidemiológicos dos pacientes com diagnóstico de doenças neurológicas submetidos a plasmaférese em 5 hospitais de São Paulo.
Materiais e métodoseste é um estudo descritivo retrospectivo realizado através da revisão de prontuários de pacientes submetidos ao procedimento de plasmaférese para tratamento de doenças neurológicas no período de janeiro de 2020 a junho de 2022. Foram analisados sexo, faixa etária, número de sessões realizadas, diagnóstico e variação dos níveis de hemoglobina pré e pós procedimento.
ResultadosForam submetidos a plasmaférese 53 pacientes com diagnósticos neurológicos diversos. Destes, 34 (64,1%) eram do sexo feminino com uma mediana de idade de 40 anos. Diagnósticos incluídos: 12 neurites ópticas, 8 miastenias gravis, 9 escleroses múltiplas, 7 pacientes com síndrome de Guillan Barré, 5 mielites, 3 doenças desmielinizantes a esclarecer, 1 encefalite autoimune, 1 polirradiculopatia a esclarecer, 1 polineuropatia a esclarecer, 1 síndrome de Miller Fisher, 3 síndrome de Stiff-Person, 1 ataxia não especificada e 1 neoplasia de sistema nervoso central. Todos realizaram troca de uma volemia plasmática e 94% realizaram 5 sessões. Dois pacientes realizaram apenas 3 sessões (um paciente com diagnóstico de neuromielite e uma miastenia gravis) e um realizou 7 sessões (mielite pós covid). Seis pacientes não foram submetidos a outros tratamentos (diagnósticos de miastenia gravis, esclerose múltipla, síndrome de Stiff-Person e neurite óptica). Todos os demais foram submetidos a pulso com corticóide, imunoglobulina ou rituximabe. A variação média da hemoglobina foi de 0.14 pontos.
DiscussãoDe acordo com os dados levantados, podemos perceber que a plasmaférese é indicada em diversas doenças neurológicas que não estão classificadas na categoria I pela ASF. Esse número de indicações em primeira linha pode estar aumentado devido a indisponibilidade de Imunoglobulina Humana neste período. Nos demais casos, a plasmaférese foi empregada após pelo menos uma linha de tratamento. A demora para o confirmação diagnóstica devido a espera dos resultados de exames e também devido a evolução lenta dos sintomas neurológicos dificulta a definição da melhor abordagem terapêutica incluindo a indicação da plasmaférese.
ConclusãoA plasmaférese continua sendo amplamente empregada em doenças neurológicas de etiologia imune. A interação entre as equipes de neurologia e hemoterapia são essenciais para a correta indicação do procedimento e planejamento terapêutico do paciente. Um estudo bem desenhado para avaliação de resposta ao tratamento de forma objetiva, contribuirá para adicionar dados em relação a eficácia do tratamento.