Introdução: A pandemia provocada pelo SARS-CoV-2 impactou significativamente todas as áreas de atuação e principalmente a saúde. Hospitais se adequaram para fornecer melhor suporte e podemos dizer que na terapia transfusional não foi diferente. Apesar do cancelamento de procedimentos eletivos, pacientes que necessitam de transfusões continuaram sendo atendidos e trouxeram desafios tanto na captação de doadores durante o período de crise, quanto nos testes imuno-hematológicos para liberação de hemocomponentes de forma segura. Objetivo: Descrever o perfil de problemas imuno-hematológicos que justificaram investigação no laboratório de imuno-hematologia especializada, em amostras de pacientes que receberam transfusão sanguínea no período de Janeiro de 2020 a Julho de 2020 no Centro de Hemoterapia, Hematologia e Terapia Celular do Ceará (Fujisan). Material e métodos: Foram avaliadas 317 amostras de pacientes, média de 45 mensal (Mín. 32 – Máx. 75) que apresentaram discrepâncias ABO ou reação positiva na pesquisa de anticorpo irregular em tubo (Fresenius). A pesquisa e identificação de anticorpos nas amostras destes pacientes foram realizadas pela técnica de aglutinação em gel LISS/Coombs e NaCl (Biorad), com técnicas complementares como tratamento do soro com Dithiothreitol – DTT (Sigma-Aldrich), aloadsorção e eluição. Resultados: Em comparação com 2019, observamos uma redução de 30% no número de pacientes transfundidos nesse mesmo período. Em contrapartida, o número de casos enviados para investigação imuno-hematológica aumentou em 150%. Dos casos enviados, 172 (54%) foram de pacientes aloimunizados com histórico prévio, 63 (20%) novatos com alo ou autoanticorpos identificados, 47 (15%) casos inicialmente considerados como falso-positivos e 35 (11%) casos inconclusivos. Dos 63 pacientes identificados, 31 (49%) apresentaram um aloanticorpo, 05 (8%) possuíam dois aloanticorpos, 02 (3%) pacientes três aloanticorpos, e 07 (11%) apresentaram associação entre alo e autoanticorpos quente ou frio. Em 18 (29%) pacientes foram encontrados somente autoanticorpos da classe IgM ou IgG. Dos 45 pacientes que apresentaram aloanticorpos, 26 (58%) possuíam anticorpos dirigidos contra antígenos do sistema Rh associados ou não com autoanticorpos. Discussão: Durante a pandemia, apesar da redução no número de transfusões, observamos um aumento significativo no número de amostras com resultados discrepantes e até mesmo inconclusivos nos testes imuno-hematológicos, além de amostras altamente hemolisadas e coaguladas. Embora os meses de pico em Fortaleza-CE tenham sido em Abril e Maio, resultados desse mesmo tipo foram encontrados desde Janeiro de 2020 sem causa aparente. A partir do aumento no número de casos, observamos que a maioria pertencia ao mesmo quadro: infecção pelo coronavírus, uso de hidroxicloroquina e heparina. Dessa forma, não foi possível a resolução da investigação imuno-hematológica em 26% das amostras recebidas. Dos casos solucionados, 58% dos pacientes apresentavam anticorpos dirigidos contra antígenos do sistema Rh. Conclusão: A pandemia nos trouxe diversos desafios e muitas questões que permanecem sem resposta, inclusive na terapia transfusional. Embora o perfil de aloimunização dos pacientes tenha se mantido nesse período, nossa taxa de casos inconclusivos tornou-se alta, necessitando de estudos aprofundados para melhor elucidação da situação atual.
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