
Conhecer o perfil de pacientes portadores de anemia falciforme atendidos numa agência transfusional.
Material e métodosTrata-se de um estudo observacional retrospectivo realizado pela coleta de informações dos arquivos de uma agência transfusional do Grupo GSH em Teresina. Nesse serviço de hemoterapia são acompanhados cerca de 23 pacientes com doença falciforme que foram analisados através da coleta de dados do prontuário médico e do sistema interno de hemoterapia, conforme foram inseridos no programa de transfusão crônica, entre março/2019 a julho/2024. Os dados coletados foram sexo, idade, fenótipo ABO, aloimunização, reações transfusionais e concentrados de hemácias transfundidos.
ResultadosDos 23 pacientes acompanhados pelo serviço transfusional, 14 (60,9%) eram masculinos, idades de 5 a 58 anos que realizam o regime de transfusões na unidade. A distribuição do Sistema ABO foi de 13 O (56,6%), 7 A (30,4%), B (8,7%) e 1 AB (4,3%). A aloimunização foi ocorreu em 3 pacientes (13%) e 3 pacientes (13%) já possuíam anticorpos quando chegaram ao serviço de hemoterapia. Os anticorpos identificados foram anti-C; -E; -Fya; -D), esse com anti-D é O positivo, D variante parcial categoria IV. A associação de anticorpos foi observada em 2 pacientes que possuíam anti-C+E. Todos os pacientes foram fenotipados e em 7 foi possível apenas o fenótipo Rh/Kell (histórico de outros serviços de hemoterapia), pois pacientes já tinham transfusões recentes. Nos demais pacientes foram realizados as fenotipagens estendidas. Foram transfundidos 237 CH no período, variando entre 1 a 2 CH/paciente por solicitação, mediana de 10 CH/paciente no período analisado. Em 2 pacientes (8,7%) ocorreram reações transfusionais alérgicas e/ou febris não hemolítica.
DiscussãoOs desafios para atender aos pacientes com a doença falciforme são muitos, pois a compatibilização de hemácias com fenótipos específicos é maior que na população em geral. Essa doença genética e hereditária possui fisiopatologia baseada em anemia e eventos vaso-oclusivos causados pela polimerização da Hb S e a transfusão crônica previne essas complicações. Cerca de 5% a 10% desses pacientes entram no programa de transfusão crônica e junto com as transfusões pode estar o risco de aloimunização e eventos adversos. Neste estudo, observou-se que a maioria dos pacientes apresentou resultado negativo na PAI que pode estar relacionado ao protocolo institucional de compatibilização de concentrados de hemácias com o fenótipo estendido. Os anticorpos identificados foram dos sistemas Rh e Duffy que estão entre os sistemas mais imunogênicos.
ConclusãoO estudo permitiu conhecer melhor os pacientes portadores de anemia falciforme atendidos no serviço de hemoterapia local contribuindo expressivamente no atendimento aos mesmos baseado em protocolos de uso racional do sangue, realização de fenotipagem estendida antes de iniciar as transfusões dos pacientes com um suporte hemoterápico para testes imunohematológicos e fornecimento de bolsas com fenótipos compatíveis.