
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é uma neoplasia maligna de células linfoides que ocorre principalmente na infância, mas também afeta adultos. A taxa de cura é elevada em crianças, cerca de 90%, enquanto em adultos está entre 20-40%. O objetivo desse trabalho é descrever o perfil clínico-epidemiológico e a sobrevida dos pacientes adultos com LLA em um hospital universitário no Rio de Janeiro.
Material e métodosEstudo retrospectivo e observacional de pacientes com LLA acompanhados no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) de 01/01/2012 a 01/03/2024. Os dados foram coletados do prontuário, sendo analisadas características demográficas, clínicas, da doença e do desfecho clínico. Foram avaliadas taxas de resposta e sobrevida global. Características demográficas e da doença foram avaliadas por estatística descritiva. A sobrevida global foi estimada pelo método de Kaplan-Meier e a comparação entre grupos pelo teste de Log-rank.
ResultadosForam avaliados 43 pacientes com diagnóstico de LLA, com idade mediana ao diagnóstico de 42 anos e 41% do sexo feminino. Quanto ao fenótipo, 33 pacientes (76,7%) apresentaram diagnóstico de LLA-B, dos quais 8 (24,2%) eram cromossomo Philadélfia (Ph) positivo, e 10 (23,3%) pacientes com LLA-T. O sistema nervoso central (SNC) era infiltrado em 10 pacientes (23,3%). O protocolo de tratamento mais realizado foi o HyperCVAD (55,9%), associado a um inibidor de tirosina quinase (ITK) nos pacientes Ph+; seguido do protocolo CALGB 10403 (25,6%) e do BFM 2009 (16,3%). A resposta completa (RC) pós indução foi atingida em 31 pacientes (72%), com doença residual mensurável (DRM) negativa em 34,8%. A mediana de sobrevida foi de 11,9 meses (IC 95% 5,5-18,2), com taxa de recaída de 23,3%. Os pacientes com LLA-T mostraram as piores taxas de RC pós indução e sobrevida global. Os pacientes submetidos ao CALGB 10403 apresentaram maior sobrevida comparado aos demais protocolos.
DiscussãoA nossa coorte apresentou distribuição fenotípica semelhante aos dados presentes na literatura. Foi observada maior proporção de pacientes com SNC infiltrado ao diagnóstico comparada aos estudos, que evidenciam uma incidência de 5-11% em pacientes adultos, o que está associado a um pior prognóstico. Nos pacientes com LLA-T, dados mostram sobrevida semelhante ou melhor à LLA-B, porém os resultados neste estudo foram inferiores, o que pode estar associado à presença de características de pior prognóstico neste grupo, como maior acometimento de SNC, proporção de fenótipo Early-T e leucometria acima de 100.000. A realização de regimes inspirados em protocolos infantis nos pacientes adultos jovens com LLA Ph-, como o CALGB 10403, tem sido associada ao aumento da sobrevida nessa população comparado a protocolos para adultos. Na LLA recaída/refratária, o tratamento consiste em imunoterapia e consolidação com TCTH alogênico e representa um desafio. A falta de acesso a imunoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS) pode ter contribuído para o pior desfecho nesses pacientes.
ConclusãoEmbora a LLA seja potencialmente curável em adultos, os desafios permanecem significativos, especialmente para pacientes mais velhos e com doença recaída/refratária. Novas terapias, a avaliação do risco genético e a aplicação de estratificação de risco baseada em DRM são essenciais para melhorar esse desfecho.