HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO Linfoma de Hodgkin clássico (LHc) apresenta altas taxas de cura quando tratado adequadamente. No entanto, no Sistema Único de Saúde (SUS), limitações como indisponibilidade de medicamentos, e acesso restrito a exames comprometem os resultados. A escassez de estudos fora dos grandes centros reforça a necessidade de pesquisas que retratem a realidade nacional, contribuindo para o aprimoramento das políticas públicas em saúde.
ObjetivosDescrever o perfil clínico-epidemiológico de pacientes com LHc tratados em hospital universitário do Rio de Janeiro entre 2013 e 2023, e avaliar resposta completa à primeira linha, fatores associados à recaída/refratariedade, Sobrevida Livre de Progressão (SLP) e Global (SG), além do impacto do esquema quimioterápico e da indisponibilidade de medicamentos.
Material e métodosEstudo de coorte retrospectiva, baseado na análise de prontuários de pacientes adultos com LHc tratados no ambulatório de hematologia de um hospital universitário do Rio de Janeiro, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2023. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa local (parecer nº 6.744.639). A análise estatística foi realizada no IBM SPSS Statistics, com estimativas de sobrevida pelo método de Kaplan-Meier, comparação pelo teste Log-Rank e associações avaliadas por testes de Qui-quadrado, Fisher, Mann-Whitney, regressão de Cox e logística, considerando p<0,05.
ResultadosA amostra foi composta por 44 pacientes, maioria do sexo feminino (54,5%) e parda (59,1%), com mediana de idade de 34 anos, e 11,4% HIV positivos. O subtipo esclerose nodular predominou (75,0%), com 58,5% em estágios Ann Arbor/Cotswold III e IV. Sintomas B estavam presentes em 65,9% e doença bulky em 9,8%. O esquema ABVD (doxorrubicina, bleomicina, vinblastina e dacarbazina) foi utilizado em 78,6%, com 45,2% apresentando modificações por falta de medicamentos, especialmente bleomicina. A taxa de resposta completa foi de 61,4%, e 27,3% tiveram recaída ou refratariedade. As estimativas de SLP e SG em 5 anos foram de 53,3% e 83,3%, respectivamente. O uso do ABVD associou-se a maior SLP (67,5% vs. 0%; p = 0,040) e SG (96,8% vs. 53,4%; p = 0,003) em relação ao AVD. Na análise multivariada, o ABVD foi fator protetor independente, reduzindo o risco de progressão em 65% e de óbito em 93%. Pacientes < 45 anos apresentaram maior risco de progressão (HR = 6,10; p = 0,023). Não houve associação significativa entre os desfechos e sexo, cor, tipo histológico, estadiamento, sintomas B, ou HIV.
Discussão e conclusãoA maioria dos pacientes foi de adultos jovens, alinhada ao padrão bimodal da doença. Houve equilíbrio entre os sexos, diferente do predomínio masculino em estudos internacionais. A predominância de indivíduos pardos destaca a importância de dados específicos para a população brasileira. O subtipo esclerose nodular predominou, conforme esperado para essa faixa etária. Observou-se alta frequência de sintomas B, e diagnóstico em estágios avançados. A taxa de resposta completa foi compatível com a literatura, embora a recaída/refratariedade tenha sido elevada, especialmente em menores de 45 anos, possivelmente por viés amostral. O esquema ABVD foi superior ao AVD, mas as taxas de SLP e SG em 5 anos ficaram abaixo de coortes internacionais, semelhantes a países de renda média. Destaca-se a importância de políticas públicas voltadas à ampliação do acesso a diagnósticos precoces, exames e medicamentos essenciais ao tratamento, além de estudos multicêntricos que permitam representar adequadamente as diferentes realidades no Brasil.




